Reino Unido propõe adotar taxa de carbono para proteger setor de aço

O Reino Unido deve propor um imposto de fronteira sobre o carbono que incidiria sobre o aço importado como parte de um pacote de 600 milhões de libras (cerca de US$ 742 milhões) para ajudar as duas maiores siderúrgicas do país a investir em tecnologias mais verdes e evitar a perda de milhares de empregos.

O ministro das Finanças britânico, Jeremy Hunt, concordou em realizar uma consulta sobre maneiras de criar melhores condições para a British Steel e a Tata Steel UK concorrerem com rivais que ficam em regiões com padrões ambientais menos estritos ou custos operacionais mais baixos.

Uma opção será a introdução de um mecanismo de ajuste de carbono na fronteira (CBAM, na sigla em inglês), segundo duas fontes familiarizadas com o tema. Elas disseram que esse mecanismo seria semelhante ao acertado pela União Europeia (UE) no ano passado, que obrigará os importadores a cobrirem o custo das emissões de carbono do aço vindo do estrangeiro.

O Reino Unido já tinha indicado que faria consultas sobre a adoção desse mecanismo, mas não vinculou isso especificamente ao apoio dos contribuintes para o setor.

Hunt também aceitou, segundo as mesmas fontes, a proposta de oferecer uma ajuda específica para o setor siderúrgico pagar suas contas de eletricidade, para além da que o Tesouro anunciou no início deste mês. Esse auxílio incluirá a compensação de uma série de impostos em vigor, de forma a reduzir a disparidade dos preços da energia elétrica pagos pelas siderúrgicas do Reino Unido e por seus concorrentes europeus.

Ministros esperam que o pacote seja suficiente para estimular as duas empresas — que juntas operam os quatro últimos altos-fornos do Reino Unido — a investirem em fornos elétricos a arco, que fazem uso menos intensivo de carbono. Os novos fornos reciclariam a grande quantidade de sucata de aço que o Reino Unido produz e poderiam ser alimentados por eletricidade originária de fontes renováveis.

Mais de 4 mil empregos estão em jogo na unidade de Port Talbot da Tata Steel, no País de Gales, e outros 4 mil na British Steel, a maioria em suas instalações em Scunthorpe, além de alguns milhares que estão em risco nas cadeias de fornecimento.

A Jingye, proprietária chinesa da British Steel, já avisou que será obrigada a fechar um de seus dois altos-fornos e importar aço da China para ser processado nas instalações da empresa no Reino Unido se não receber ajuda do governo.

Executivos do setor, no entanto, advertiram ontem que o valor de 600 milhões de libras em subsídios é menor do que o esperado. As duas empresas juntas já solicitaram ao governo auxílios de 2 bilhões de libras (US$ 2,473 bilhões), de acordo com uma fonte. Analistas estimam que o custo para descarbonizar apenas a unidade de Port Talbot seria de 2 bilhões a 3 bilhões de libras (US$ 3,709 bilhões).

Alun Davies, responsável nacional do sindicato dos metalúrgicos Community, disse que a oferta noticiada de 600 milhões de libras era “um passo na direção certa” e instou o governo e os empregadores a “acertarem um pacote que proteja nossa indústria vital”.

O setor siderúrgico é o maior emissor industrial de dióxido de carbono do Reino Unido e a Comissão sobre as Mudanças Climáticas, o grupo consultivo independente do governo, avaliou que suas emissões precisam estar “perto de zero” até 2035 se o governo quiser cumprir sua promessa de que o Reino Unido chegará a zero de emissões líquidas até 2050.

O Departamento de Negócios não quis comentar os detalhes do pacote de auxílio, mas informou que o governo “reconhece o papel vital que o aço desempenha na economia do Reino Unido, ao garantir empregos locais e crescimento econômico, e está comprometido em assegurar um futuro sustentável e competitivo para o setor siderúrgico britânico.”

“O secretário de Negócios considera o sucesso do setor siderúrgico uma prioridade e continua a trabalhar em estreita colaboração com o setor para conseguir atingir suas metas.”

Fonte: Financial Times