Thyssenkrupp cresce no Brasil e foca na “transformação verde”

O gigante industrial de bens de capital Thyssenkrupp, que no Brasil atua em três grandes áreas de negócios, além do serviço de trading de matérias-primas e aço, fechou o ano fiscal de 2022 (em 30 de setembro) com resultado positivo – crescimento de 11%, em reais, na receita (ou 21% em euros). “Foi um ano bom para nós”, resumiu Paulo Alvarenga, CEO do grupo na América do Sul.

O desempenho envolve a América do Sul, mas desde o ano passado o Brasil passou a concentrar 90% das operações na região após a venda da divisão de equipamentos para mineração, que tinha grande peso no Chile e Peru. “O grupo não quer mais se relacionar com atividades de mineração, em especial de carvão”, afirmou.

O faturamento na região atingiu R$ 5,2 bilhões (ou € 900 milhões), mesmo com a perda de duas importantes áreas de negócios – primeiro, aço, vários anos atrás; em 2020, a de elevadores. “Na pandemia, fizemos um plano de dobrar de tamanho em três anos. Já quase conseguimos isso em dois”, comemora Alvarenga.

O executivo destaca que contribuiram para o resultado a forte recuperação da área automotiva, com mais de 30% de expansão. Foi impulsionada pela demanda de veículos pesados e por exportação de componentes e autopeças.

Em Campo Limpo Paulista (SP) fica a principal fábrica da Thyssenkrupp, que é a maior do mundo na produção de virabrequins forjados, além de outras autopeças. A empresa passou também a importar amortecedor de alta performance da marca do grupo Bilstein, que veio para ocupar fatias no mercado de reposição.

Outro pilar do grupo que ganhou robustez é a área de defesa. Por meio de um consórcio, que inclui subsidiária da Embraer, em 2022 o negócio começou a deslanchar, com a construção, após as fases preliminares, da primeira fragata encomendada pela Marinha. A entrega está prevista para o final de 2025 – no todo, são quatro embarcações a serem montadas no estaleiro do próprio consórcio, em Itajaí (SC)

O terceiro negócio, que vem ganhando expressão dentro grupo, mundialmente, é o de plantas industriais diversas. Por exemplo, unidades de hidrogênio verde. “Não somente verde, pois já temos expertise em tecnologia de produção de outros tipos de hidrogênio”, afirmou Alvarenga.

Essa divisão tem crescido também no fornecimento de componentes (como rolamentos de grande porte) para torres eólicas, uma área em forte expansão no Brasil. Ha ainda plantas químicas – a Thyssen fechou novo contrato para uma instalação de dessulfuração de gases da ArcelorMittal no país, na usina de aço de Serra (ES).

A unidade vai recuperar, com mais eficiência, gases das coquerias (unidades de preparação de carvão para uso no alto-forno). O contrato foi assinado em dezembro e a obra será concluída em 30 meses, empregando 400 pessoas.

Em julho, o grupo firmou com o grupo químico Unigel contrato de fornecimento de equipamentos e tecnologia da primeira unidade de hidrogênio verde do país em escala industrial por meio da Thyssenkrupp Nucera. A primeira fase do projeto ficará pronta ao final deste ano, apta a fazer 10 mil toneladas ao ano, que serão convertidas em 60 mil toneladas de amônia verde.

Segundo a Unigel informou recentemente, o plano é quadruplicar a produção até 2025. O investimento previsto é de US$ 120 milhões. Numa terceira fase, a meta é atingir 100 mil toneladas de HV ao ano e 600 mil de amônia verde.

“O foco futuro da companhia, no mundo, é tudo que está relacionado à ‘tecnologia verde’, em projetos para substituição de combustíveis fósseis”, diz Alvarenga. A estratégia passa pela transformação verde e pela questão climática mundiais, desenvolvendo novas tecnologias. “Na siderurgia, já estamos desenvolvendo e aplicando isso dentro de casa”, informa.

Na Alemanha, a Thyssenkrupp Steel Europe, importante siderúrgica da Europa, está aplicando mais de € 2 bilhões para substituir o carvão metalúrgico por hidrogênio verde na “alimentação” do alto-forno 1 da sua siderúrgica de aços planos. Com uso de carvão, que se junta ao minério de ferro no processo de fabricação do aço, é emitida uma grande quantia de CO2 na atmosfera.

Ao se utilizar hidrogênio verde, e não carvão, o processo vai liberar água (H2O). “É quase uma outra linha de produção de aço. O conselho supervisor aprovou o investimentos depois de testes iniciados em 2019”. Serão três anos de obras. O “novo alto-forno” começa a operar em 2026 e a primeira fase do projeto vai até 2030. A previsão é ter os quatro altos-fornos da siderúrgica com a tecnologia verde em 2045.

Nessa área, o grupo conta com a Thyssenkrupp Nucera, braço que desenvolve as plantas de eletrólise de hidrogênio – de todos tipos. Houve tentativa de uma oferta pública de ações (IPO) da empresa, sem sucesso, e agora aguarda-se momento propício para retomar o processo, diz o executivo. “Há uma renovação industrial, global, de construção de uma economia verde. O grupo seguirá junto nesse caminho”.

Segundo Alvarenga, o mundo terá mais de 5 mil GW de eletrólise até 2050, que terão o papel de substituir os combustíveis fósseis – petróleo, gás natural, carvão…, o que demandará muita energia renovável para o processo. A Thyssenkrupp faz 1 GW ao ano de plantas de eletrólise e tem plano de saltar para 5 GW até 2025. “Isso é para atender os contratos que temos hoje no mundo, tanto de hidrogênio verde como cinza.

Para 2023 e próximos anos, a meta é intensificar essa estratégia na região, em especial no Brasil. “Ha uma transformação verde em curso, com uma economia nova, sem uso dos combustíveis fósseis, o que nos abre uma avenida de crescimento. A visão da Thyssenkrupp é ser um “gigante verde” nesse novo cenário”, diz.

Na área automotiva, informa, o grupo já desenvolve peças voltadas a carros elétricos. “Desponta uma nova indústria automotiva. Na Alemanha, após 2035, não vai mais rodar carro a combustão”.

Fonte: Valor Econômico