Operadores vêm advertindo que os baixos volumes e as operações inconstantes têm levado o preço do níquel na Bolsa de Metais de Londres a ficar desconectado com o resto do mercado internacional.
Na terça-feira (13), o metal desvalorizou-se 3,8%, cotado a US$ 28.250 por tonelada, depois de na semana passada ter chegado a subir para US$ 33.575, uma alta que colocou em evidência o impacto sendo provocado pelo afastamento dos operadores da Bolsa de Metais de Londres (LME, na sigla em inglês) nos últimos nove meses.
O contrato de níquel em Londres para entrega em três meses estava US$ 293 mais caro do que o contrato à vista no fechamento do mercado na segunda-feira, a maior diferença desse tipo para o metal em pelo menos dez anos, segundo dados da Bloomberg.
O descasamento vem criando problemas para produtores, operadores e consumidores, que veem o preço da LME como referência mundial para seus próprios negócios de compra e venda e como um guia de preço para outras versões de contratos, de tipos do metal com qualidade inferior. O níquel é um ingrediente-chave na produção de aço e de baterias de veículos elétricos.
Muitos operadores acreditam que o preço futuro perdeu a sintonia com a realidade. Nos anos anteriores à crise do níquel, a cotação média girou em torno de US$ 15 mil por tonelada.
“Ninguém acredita que [a cotação] reflita os fundamentos”, disse Nikhil Shah, analista do CRU Group. Ele argumenta que o preço deveria estar na faixa dos US$ 20 mil, já que a economia mundial entrou em desaceleração e países como a Indonésia incrementaram os níveis de produção.
Para a LME, o mercado de níquel se tornou um problema considerável desde a invasão da Ucrânia pelos russos, porque a Rússia é uma das principais fontes internacionais do metal que faz parte de seu contrato.
A bolsa de 145 anos tem tentado reconstruir sua reputação perante os usuários depois de ter se visto forçada a cancelar todos os negócios de uma sessão em março, quando apostas contra vendas a descoberto fizeram os preços do níquel mais do que triplicarem em um dia, para mais de US$ 100 mil por tonelada. A Tsingshan, a maior fabricante de aço inoxidável do mundo e uma das maiores participantes do mercado, foi pega desprevenida em suas apostas na LME quando a invasão russa da Ucrânia alimentou temores de interrupções no fornecimento.
Alguns participantes do mercado se irritaram e decidiram reduzir os negócios em Londres, e o baixo volume do mercado vem exacerbando as variações nos preços. Em comparação a janeiro, os volumes diários médios em Londres em novembro caíram 60%, para 35,4 mil contratos.
O contrato londrino de níquel representa o metal de alta pureza, mas outros produtos de níquel de menor qualidade também evidenciam a desconexão do contrato em relação a outros mercados.
Em novembro de 2021, o ferro-níquel, usado no aço inoxidável, era negociado com um desconto de US$ 100 a US$ 300 por tonelada em relação ao preço em Londres, mas em novembro esse desconto passou a ser de US$ 5 mil a US$ 6 mil, segundo a Fastmarkets.
O ferro-gusa de níquel é negociado a cerca de US$ 19,6 mil por tonelada, de acordo com a firma de dados Argus. O metal pode ser transformado em níquel com qualidade do contrato londrino por meio de processamento adicional, mas com custo.
“A US$ 30 mil, quem está comprando [níquel em Londres]?” disse um operador. “Se você pode comprar os ingredientes [para fazer uma linguiça] por US$ 22 mil, então, não faz sentido comprar uma linguiça por US$ 30 mil.”
Malcolm Freeman, executivo-chefe da Kingdom Futures, uma corretora de commodities, disse que alguns clientes europeus que negociam com a China têm pedido para usar o contrato de níquel rival da Bolsa de Futuros de Xangai (SHFE), como forma de hedge. O preço em Xangai está sendo negociado em cerca de US$ 30 mil, quando normalmente acompanharia de perto o preço em Londres.
“Agora há uma grande desconexão entre o níquel LME, o níquel SHFE e o preço do ferro-gusa de níquel”, disse Colin Hamilton, diretor-gerente de análise de commodities na BMO Capital Markets. “Vemos os preços do ferro-gusa de níquel como um indicador melhor para a demanda física subjacente.”
Al Munro, corretor da Marex, disse que as taxas de juros mundiais mais altas estão afetando os custos para financiar as compras e vendas de metais. “Entre todos os metais, o níquel foi impactado mais substancialmente pelos custos de captação mais altos”, disse. “Para um metal tão caro, isso é importante – [e] como resultado, muitos bancos se afastaram.”
Além disso, a LME também aumentou o valor da margem que os investidores devem ter para proteger suas operações e evitar o tipo de colapso do mercado que esteve prestes a ocorrer em março. “Tornou-se proibitivamente caro comercializar níquel”, disse Munro.
Um operador culpou a LME por agravar ainda mais a situação de baixo volume ao fechar os negócios durante o horário das sessões na Ásia, apontadas como culpadas de terem acelerado os problemas em março.
“Eles não querem que a situação se repita no início deste ano, mas isso não contribui para a liquidez dos mercados”, disse Geordie Wilkes, chefe de análises da Sucden Financial.
A LME informa que está dando prioridade aos trabalhos para reabrir o comércio asiático de níquel. “Isso revitalizaria as oportunidades de arbitragem e ajudaria a aumentar a liquidez. Esperamos anunciar um retorno às negociações no horário asiático muito em breve”.
Fonte: Financial Times