Fábricas enfrentam desafio para integrar equipamentos antigos

A indústria é um dos setores adiantados em internet das coisas (IoT) e internet das coisas industrial (IIoT), que avançam em pautas estratégicas, com equipes dedicadas e resultados em produtividade, qualidade e segurança, entre outros. “Estamos no momento de implementação do que deu certo”, diz José Rizzo Hans Filho, presidente da Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII) e diretor da Accenture.

Robôs autônomos, para logística fabril interna ou em armazéns, manutenção preditiva e gestão de ativos, com conectividade via bluetooth, Wi-Fi e até 5G privativa estão entre as aplicações mais populares. Os principais desafios são a dificuldade de interoperabilidade entre equipamentos, principalmente os mais antigos, cibersegurança e justificativa de retorno sobre o investimento (ROI). Casos de sucesso, contudo, estimulam a adoção da tecnologia. A ABII premia os melhores a cada ano. Em 2022, a campeã foi a especialista em sinalização ferroviária MPK, cuja solução IoT monitora desde o nível de bateria até a posição do braço de cancela em passagens de nível e gera alarmes de segurança para níveis críticos.

Outra finalista, a Tupy, fabricante de peças em ferro, soma IoT, IIoT e escritório digital para compor a transformação digital nas unidades operacionais do Brasil, México e Portugal, com centro de desenvolvimento, experimentação e aceleração em Joinville (SC).

No campo da IIoT da Tupy, três camadas de conectividade cobrem toda a operação. A borda (edge), perto da automação industrial, soma sensores inteligentes e redes de comunicação para controlar o processo e coletar dados. Os datacenters das unidades abrigam a primeira camada de tratamento e análise e as aplicações que suportam as operações, incluindo sistema de controle e monitoramento da produção (MES) desenvolvido internamente. A nuvem sustenta o trabalho com grande volume de dados, modelos de análise para inteligência e compartilhamento de dados com parceiros externos. Também criado internamente, o módulo de rastreabilidade do processo produtivo usa QR-Code, sistema de rádio (RFID) e marcação a laser para identificar partes, sub-partes e peças produzidas. A inteligência gerada pela IIoT acerta em mais de 80% a indicação de desvios de qualidade, conta o gerente executivo de inovação e transformação digital da Tupy, Daniel Moraes.

A Tupy comprou a fabricante de motores e geradores MWM, que por sua vez implementou projetos como conexão do MES a atividades manuais (via sensores) para evitar falhas, a instrumentos de medição e a torquímetros eletrônicos (por módulos Wi-Fi) para alertas ou interrupção em caso de falhas; dispositivo em ferramentas de usinagem para ajuste automático; e acompanhamento on-line do sistema de monitoramento de indicadores dos equipamentos (OEE).

Na logística, sensores otimizam empilhadeiras e rebocadores e operadores usam tablets para acessar o sistema de sequenciamento de separação de peças e minimizar estoques. A contagem de peças é feita por etiquetas RFID. A manutenção usa realidade aumentada com tablets e smartphones, sensores bluetooth para medir parâmetros e prever falhas em equipamentos críticos e geradores de campo e dispositivos Wi-Fi para monitorar painéis elétricos, descreve o diretor da unidade de negócios de contratos de manufatura e operações de qualidade da MWM, Michael Andras Ketterer.

Startups ajudam o setor. A Randon e a ArcelorMittal passaram de clientes a sócias da Sirros, especialista em IoT. No grupo Randon, ela contribuiu com projetos de controle de eficiência operacional, geolocalização de equipamentos e visão computacional de inspeção de qualidade de produtos na Fras-le, na Randon Implementos e na Master Sistemas Automotivos.

Nos processos de manufatura, o grupo prioriza a visibilidade para mapear ambientes fabris de forma completa, autônoma e em tempo real para analisar processos industriais com monitoramento apoiado por IoT. Segundo o diretor de tecnologia avançada – produto e manufatura das empresas Randon, César Ferreira, a tecnologia é determinante para controlar etapas como soldagem, manipulação, montagem, inspeção, usinagem e preparação de superfícies, e colabora para antecipar falhas.

O 5G, por sua vez, ajuda a equacionar desafios de conectividade, mas ainda carece de equipamentos adequados. André Souza, CIO na América do Sul da Stellantis, que em 2021 criou rede privativa 5G com apoio de Accenture e Tim, conta que a montadora desenvolveu sensores Wi-Fi e o conector próprio e-Mille para integrar dados de produção – inclusive robôs – em plataforma de análise de dados.

Fonte: Valor Econômico