Importações de pequeno valor crescem 100 vezes

O número de importações de pequeno valor aumentou cem vezes em dez anos. Os dados são do Banco Central e mostram que, em 2013, o número somava US$ 83 milhões (R$ 430 milhões), saltando para pouco mais de US$ 8 bilhões (R$ 40 bilhões) em 2022. O cálculo considera até setembro deste ano — último mês com números divulgados.

Já em relação a 2021, quando o número de importações foi de quase US$ 6 bilhões, em 2022 o país registrou um aumento de quase 50%. As importações de pequeno valor são feitas por meio de encomendas internacionais, como compras realizadas por brasileiros em sites de outros países (Amazon, Ali Express e etc).

Wilson Victorio Rodrigues, diretor da Faculdade do Comércio de São Paulo (FAC-SP), explica que o e-commerce cresceu de uma maneira “galopante” no Brasil. “Até 2024, estima-se que o volume de vendas no e-commerce brasileiro seja de US$ 400 bilhões”, disse Rodrigues. “Atualmente, esse número está em US$ 200 bilhões. Entre 2020 e 2022, esse número já cresceu em 50%, portanto o comércio eletrônico vem tomando um espaço muito grande.”

Segundo o Sortlist, marca de gerenciamento de marketing, o brasileiro gasta cerca de dez horas por dia na internet. O número equivale a quase 155 horas por ano. Já nas redes sociais, a população gasta quase quatro horas por dia.

O diretor da FAC-SP destaca que uma das razões para esse grande aumento no número de importações é que, no decorrer dos anos, o brasileiro passou a ter mais confiança com as compras internacionais. Acima de tudo, em relação à entrega.

“Antes, os produtos demoravam entre 40 e 60 dias para chegar”, explicou Rodrigues. “Além disso, as pessoas tinham muitas dúvidas para compreender o processo de troca do produto, ou se o Código de Defesa do Consumidor iria funcionar nesses casos.”

De acordo com o diretor da FAC-SP, atualmente, o comércio internacional que mais vende no Brasil é o Ali Express, uma empresa chinesa de roupas, acessórios, eletrônicos, utilidades para casa. Em segundo lugar também está a Shopee, outra empresa chinesa que vende os mesmos produtos do Ali Express; e o terceiro lugar é ocupado pela Amazon, do magnata Jeff Bezos.

Outro ponto lembrado por Rodrigues é a questão tributária. Uma corrente majoritária entre os tributaristas entende que não se tributa importação (de pessoa física) em compras de até US$ 50 (R$ 260). Contudo, existem outros tributaristas que compreendem que a regra vale para importações de até US$ 100 (R$ 520).

“Digamos que não se tributa US$ 100, que equivale a R$ 520, diante disso, compensa demais comprar em dólar”, explicou o diretor da FAC-SP. “Isso por que não há a tributação do imposto.” A maioria das compras são feitas com cartão de crédito internacional, por isso grande parte do público pertence à classes A e B.

André Miceli, coordenador do MBA de Marketing e Negócios Digitais da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), entende que o processo de cultura fez com que as pessoas comprassem mais.

“De maneira geral, o uso do e-commerce aumentou e, evidentemente, a pandemia de covid-19 também é parte dessa explicação”, disse o coordenador. “Tivemos uma etapa de digitalização das compras e a medida em que esses sites começaram a olhar para o público brasileiro com mais cuidado, tudo isso ajudou na confiabilidade do cidadão.”

Segundo Miceli, as categorias de moda, eletrônicos e elementos para a casa são itens mais vendidos nos sites internacionais.

Comércio local

O aumento no número das importações on-line também prejudica o comércio local, conforme o coordenador da FVG. “Os comerciantes locais competem com os varejistas internacionais que vendem seus produtos para o povo brasileiro sem pagar nenhum imposto”, explicou.

Para Rodrigues, no Brasil, o varejista local precisa arcar com toda a legislação tributária. “Está acontecendo um desiquilíbrio muito grande de forças entre o varejo local e as plataformas de compras internacionais”, afirmou. “É o momento do governo, federal ou estadual, debater esse assunto, se não o comércio local vai acabar.”

Fonte: Revista Oeste