Vale está bem posicionada para agenda “menos China, mais ESG”, dizem analistas

As intenções de longo prazo da Vale de focar na produção de minério de ferro de alta qualidade e metais relacionados à agenda global de transição energética, eletrificação e descarbonização parecem ter sido bem aceitas por analistas do mercado consultados pela Mover, ainda que, segundo eles, a mineradora tenha que provar sua capacidade de execução.

Em reunião anual com analistas e investidores realizada ontem em Nova York, a diretoria da Vale deixou claro que a companhia pretende se reposicionar para a transição energética. “Sempre que falam em Vale, falam na China. Isso é decepcionante, pois não se trata apenas da China. É claro que ela é importante, afinal, é a maior compradora global de commodities, mas no fim queremos descarbonizar o mundo”, afirmou o diretor-presidente da companhia, Eduardo Bartolomeo.

Nas últimas duas décadas, o crescimento da segunda maior produtora de minério de ferro do mundo esteve diretamente relacionado ao apetite chinês por commodities e ao desenvolvimento da siderurgia no país asiático. No entanto, analistas apontam que o futuro da Vale exige uma reformulação, promete ser mais globalizado e com demanda por alguns minerais específicos.

Para o analista de commodities do Morgan Stanley, Carlos De Alba, a mineradora está “bem posicionada” para se beneficiar da guinada sustentável dos setores de siderurgia e energia. “À medida que fabricantes de aço priorizam reduzir as emissões de carbono, a Vale prioriza qualidade em relação a volume, suprindo a indústria com os produtos demandados”, escreveu De Alba em relatório a clientes.

“Com a precificação do carbono e o jogo do xadrez geopolítico, a produção de aço deve ser cada vez mais produzida perto de onde há energia barata, com matéria-prima de alta qualidade”, disseram André Vidal, Guilherme Nippes e Helena Kelm, analistas de materiais básicos da XP Investimentos.

Já nas operações de níquel e cobre, metais básicos utilizados na fabricação de baterias e materiais condutores, a Vale tem potencial para ser a “principal fornecedora de produtos de qualidade e em praças importantes, como o mercado norte-americano”, ressaltou Gabriela Joubert, analista chefe de ações do Inter.

Promete demais, entrega de menos

Os analistas consultados pela Mover apontaram que a execução operacional da Vale ainda se mostra um desafio para o plano de longo prazo da empresa. A mineradora “vem prometendo demais e entregando a menos em termos de produção”, ressaltou o time de análise da XP, destacando que a Vale reconhece os desafios de recuperar a produção perdida após o rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, em 2019.

Segundo Joubert, do Inter, a mineradora também reconheceu que a produção siderúrgica chinesa deve operar em ritmo abaixo do precificado anteriormente.

Em metais básicos, Joubert vê dois principais desafios ante a intenção de segregar e encontrar um sócio para o negócio: “o de organizar a casa e o de estar preparada para quando o momento chegar”, afirmou. Além disso, a analista projeta que os preços do níquel e do cobre ainda podem oscilar em patamares mais baixos e menos rentáveis, “enquanto a demanda via carros elétricos não chega, podendo limitar os potenciais ganhos esperados para as operações”.

Perto das 15h40 desta quinta-feira, as ações ordinárias da Vale (VALE3) operavam em alta de 1,65% na B3, cotadas a R$86,24. No acumulado do ano, os papéis sobem cerca de 20%.

Fonte: Traders Club