Mina brasileira iniciará produção de lítio em 2023 visando maior demanda

Uma empresa canadense que está construindo uma mina de lítio no Brasil começará a produção comercial de material de alta qualidade para baterias de veículos elétricos no próximo ano, enquanto a baixa oferta fez os preços do metal dispararem.

A Sigma Lithium disse que iniciará o comissionamento do projeto Grota do Cirilo, no estado de Minas Gerais, este mês e pretende ter o produto pronto para embarque até o final de abril.

Ao mesmo tempo, o grupo listado em Toronto revelou planos para quase triplicar sua produção anual, prevista para cerca de 100 mil toneladas de LCE (carbonato de lítio equivalente), até 2024.

A Sigma disse que isso a colocará entre os quatro maiores produtores globais, ao lado da americana Albemarle, da chilena SQM e do grupo chinês Ganfeng Lithium.

“Vemos toda a demanda existente –que significativamente não é atendida– por lítio para bateria nos próximos três anos”, disse a codiretora executiva Ana Cabral-Gardner ao Financial Times.

Os preços do lítio aumentaram dez vezes, para US$ 75 mil (R$ 391 mil) a tonelada, desde o início de 2021. O mercado apertado provocou uma corrida das montadoras para garantir o fornecimento de uma commodity que, junto com o cobalto e o níquel, é vital para a produção de veículos elétricos.

“Com o advento da eletromobilidade e todo esse entusiasmo pelo lítio, o mundo precisa de novas fontes”, disse Daniel Jimenez, sócio-fundador da consultoria iLiMarkets. “Quem estiver produzindo lítio nos próximos três anos terá margens anormalmente altas.”

O entusiasmo dos investidores propiciou um aumento de 275% nas ações da Sigma este ano, dando à empresa uma avaliação de mercado equivalente a US$ 3,5 bilhões (R$ 18,18 bilhões). Seu empreendimento no Brasil está entre os primeiros de uma próxima geração em todo o mundo, muitos a partir de pequenas mineradoras.

“A Sigma está posicionada de forma única como um dos três novos projetos ‘greenfield’ [a partir do zero] de lítio que entrarão em operação em 2023 e num ambiente de preços recorde”, disse Katie Lachapelle, analista da Canaccord Genuity.

A maior parte do lítio é extraída de minas de rocha dura na Austrália e transformada em um concentrado que geralmente é refinado na China. No Chile e na Argentina, o metal é separado de salmourão bombeado do subsolo e evaporado em lagoas artificiais.

A McKinsey previu que a produção global de lítio aumentará de 540 mil toneladas LCE em 2021 para até 3,2 milhões de toneladas anuais até o final da década, dependendo do ritmo de conclusão de novos projetos.

A Sigma terá uma capacidade inicial de 37 mil toneladas LCE em sua mina de rocha dura, que considera a maior das Américas e tem 13 anos de vida. A concentração média de 1,44% de óxido de lítio em seu minério de espodumênio é relativamente alta para os padrões da indústria, segundo executivos.

Juntamente com uma estimativa atualizada de reservas minerais “comprovadas e prováveis” de 34 milhões a 55 milhões de toneladas em suas minas, a Sigma também revelou uma nova linha de crédito de US$ 100 milhões (R$ 519,6 milhões).

Fornecida pela acionista Synergy Capital, com sede nos Emirados Árabes Unidos, ajudará a financiar a expansão de uma planta de processamento de minério em concentrado de lítio de alta pureza.

Cabral-Gardner disse que o negócio deve gerar US$ 970 milhões (R$ 5 bilhões) em fluxo de caixa livre após impostos no primeiro ano de operações, subindo para US$ 3 bilhões (R$ 15,5 bilhões) no segundo ano.

Enquanto os fabricantes automotivos fecharam acordos para comprar lítio diretamente de fornecedores de matérias-primas, a Sigma tem um acordo com a fabricante de baterias sul-coreana LG Energy Solution que cobre uma parte de sua produção.

A investidora de private equity A10 Investimentos é a acionista controladora do grupo canadense.

Fonte: Folha de São Paulo