Ações de siderurgia e mineração são destaque no mês

Empresas de siderurgia e mineração dominaram o topo do ranking das ações em novembro, numa combinação de sinais de retomada da recuperação da economia da China e aumento das incertezas fiscais no Brasil. Com ampla exposição ao dólar, esses papéis são uma opção para investidores que querem se blindar da volatilidade local no pós-eleição. Com isso, empresas de educação e varejo, que supostamente se beneficiam de um governo mais propenso a aumentar os gastos sociais, acabaram na ponta de baixo da tabela.

“Caso a situação fiscal piore, investidores vão sair de setores domésticos para se proteger com ações dessas empresas indexadas no dólar”, diz Emy Shayo Cherman, estrategista de ações para Brasil e América Latina do J.P. Morgan. “Na maioria das vezes, ciclos políticos independem de ciclos econômicos.”

Em relatório recente, o Santander diz que as ações de mineração e siderurgia estão com preços atraentes se considerado o risco-retorno. No caso de Vale, os preços do minério se mantiveram em patamares elevados, fechando o mês com valorização de 27,2%, a US$ 101,15 a tonelada. No caso do aço, o mercado doméstico tem poucos gatilhos de curto prazo, enquanto o internacional ainda é atrelado ao desempenho da economia global.

Na liderança da tabela, as ações preferenciais da Gerdau foram destaque, acumulando alta de 31,7% durante novembro. Com operações nos Estados Unidos, que mostra resiliência mesmo com o risco de recessão, além de Brasil e Europa, a siderúrgica tem a vantagem sobre os pares que dependem de uma única economia.

Outras empresas do setor também tiveram bom desempenho, como Vale, que acumulou valorização de 27,6% em novembro. Os papéis da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) avançaram 28,3%. CSN Mineração teve alta de 30,9%. Já Bradespar PN, que tem participação na Vale, avançou 24,6%.

O índice setorial de materiais básicos (Imat) avançou 10,2%, o melhor desempenho entre os índices da bolsa, seguido pelo BDRX, de empresas estrangeiras. O Ibovespa, principal referência do mercado, caiu 3,06%.

“Enquanto houver um cenário de juros elevados e inflação que não arrefece, as empresas não vão voltar a crescer”, diz Victor Penna, diretor de pesquisa do BB Investimento. Ele vê que mineradoras podem se recompor neste movimento, tirando proveito dos estímulos que o governo da China usa para impulsionar a economia.

O receio de que o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) provoque um desequilíbrio fiscal acabou impulsionando até mesmo ações com faturamento ligado ao exterior, mas cujos fundamentos estão ruins, como é o caso de Braskem. Os papéis acumularam alta de 17,6% em novembro, apesar de os resultados recentes da companhia terem mostrado redução nos “spreads” petroquímicos e volumes com baixa demanda.

Ações com menor volume de negociações, como a Tronox Pigmentos do Brasil, uma das principais fabricantes de dióxido de titânio no mundo, insumo utilizado para aumentar a resistência de outros materiais, tiveram alta de 27,9% nos papéis ordinários. Ferbasa, fabricante de ferroligas, valorizou 6,61% durante o mês de novembro.

Do lado oposto, ações do setor de educação e do varejo figuram entre as maiores desvalorizações. Muito ligadas ao consumo interno e afetadas pela persistência na alta dos juros, investidores acabaram saindo dos papéis para se proteger das incertezas macroeconômicas globais. A Ânima Educação caiu 35,4% em novembro, maior desvalorização do mês, enquanto a varejista Americanas perdeu 32%.

As ações do setor doméstico se beneficiaram brevemente após o resultado do segundo turno das eleições, antes dos riscos fiscais aparecerem, com investidores ponderando se o governo Lula poderia aumentar auxílios para estimular consumo e educação.

Na educação, por exemplo, nem mesmo as declarações do então candidato Lula sobre voltar a dar destaque ao Fies foram capazes de amenizar as preocupações dos investidores, com os papéis mais do que devolvendo os ganhos do período de campanha.

Para Cherman, do J.P. Morgan, a persistência do cenário macroeconômico difícil, com corrosão da renda da população, ainda deve afetar o resultado das varejistas, pressionando suas ações. “Onde estamos vendo a melhora da atividade econômica no Brasil são nos serviços e não em consumo”, diz. “As pessoas deixam de comprar para viajar.”

A Black Friday teve resultados decepcionantes no Brasil, aumentando as incertezas sobre varejistas. Segundo dados da Confi Neotrust, empresa de dados com foco no digital, em parceria com a ClearSale, voltada para prevenção a riscos, houve queda de 28% nas vendas na sexta-feira sobre 2021, para R$ 3,1 bilhões. No mês de novembro, até dia 25, o recuo foi de 8,5%.

Com o petróleo ainda em alta, mas pressionada pelas incertezas sobre o futuro da sua política de preços, as ações da Petrobras ficaram praticamente estáveis no mês. O papel ordinário subiu 2,39%, enquanto o preferencial teve alta de 1,83%. Analistas apontam que enquanto não houver uma sinalização de fato para que lado vai a empresa, do ponto de vista dos investimentos e da paridade internacional dos preços de combustíveis, investidores ficarão cautelosos.

Fonte: Valor Econômico