Problemas de produção pioram na China apesar de alívio das restrições

Apesar do relaxamento de restrições problemas de produção continuam na China, não só no setor de eletrônicos, mas também de automóveis e vestuário. Muitas empresas avaliam que o surto atual de covid-19 continuará nos próximos um ou dois meses, pressionando as autoridades e os cidadãos, cada vez mais irritados com a política de covid-zero.

A atividade econômica na China contraiu ainda mais em novembro, aumentando a pressão sobre a economia mundial, que já está perdendo força com o prolongamento da guerra na Ucrânia e aperto monetário dos bancos centrais para combater a inflação alta.

Os indicadores de atividades nos setores industrial, de serviços e construção da China se deterioraram mais que o esperado neste mês, um sinal de enfraquecimento da produção econômica, enquanto as autoridades insistem em usar restrições generalizadas às empresas e à vida cotidiana em resposta aos surtos de covid-19. Pelos mesmos motivos, montadoras como Volkswagen (VW) e Honda suspenderam a produção em algumas fábricas.

A VW disse que suspendeu a produção em sua fábrica de Chengdu, no sudoeste da China, além de duas de cinco linhas de produção de sua fábrica de Changchun, no nordeste, no começo da semana passada, em razão da falta de autopeças e das medidas de proteção à saúde. A fábrica da Honda em Wuhan, no centro da China, retomou parcialmente a produção ontem, após permanecer fechada por dois dias porque muitos trabalhadores estavam de quarentena, enquanto a Toyota disse que está ajustando a produção em algumas de suas fábricas por causa das interrupções associadas à covid-19.

Fornecedores na China que atendem a Apple, Google e outras marcas globais estão se preparando para novas interrupções em meio à incerteza sobre como Pequim responderá aos apelos para encerrar as rígidas medidas de covid-zero do país.

Um executivo de uma fábrica de componentes eletrônicos na província de Jiangsu expressou dúvidas sobre se a China relaxará sua política. “Ainda sentimos que a China espera adotar medidas duras contra a covid”, disse. “Nossa fábrica tem só dois casos confirmados, mas as autoridades locais exigiram a suspensão da produção para higienização e não sabemos quanto tempo isso levará”.

Outros dizem que a perspectiva do governo usar lockdowns generalizados para conter a agitação pública é sua maior preocupação.

“A maioria dos fabricantes não está preocupada com a necessidade de operar em circuito fechado ou trabalhar em casa, já que a demanda não é tão forte para a próxima temporada de festas”, disse um gerente de uma fábrica de displays em Kunshan, na província de Jiangsu. “Nossa preocupação é se as autoridades decidirem lançar lockdowns maciços como medida política, caso ocorram mais protestos. Se isso acontecer, definitivamente afetará nossa operação.”

Também o setor de moda teme uma potencial disrupção. A vila de Yuangang, no distrito de Panyu, em Guangzhou, abriga vários fornecedores da marca de fast fashion Shein. As autoridades sugeriram que fábricas e lojas mandassem trabalhadores para casa no Ano Novo Chinês, daqui a dois meses.

“O surto não vai diminuir nos próximos um ou dois meses”, disseram as autoridades locais.

A situação mostra poucos sinais de melhora, mesmo depois que o Conselho de Estado, o governo chinês, reiterou na terça-feira que os lockdowns não devem ser expandidos “arbitrariamente”.

Em linha com as orientações do governo central, as autoridades de Guangzhou (Cantão) prometeram nesta quarta-feira (30) “estabilizar a economia” e “garantir a estabilidade da cadeia de suprimentos das principais cadeias industriais”. Lockdowns não serão permitidos e os distritos serão impedidos de expandir arbitrariamente a escala dos testes de covid, nos primeiros comentários de um governo local sobre as diretrizes de Pequim.

Mas outras cidades continuaram a impor restrições. Chongqing, por exemplo, está sob lockdown de fato há pelo menos 10 dias e não está claro quando será suspenso. Shenzhen está obrigando a maioria de seus residentes a trabalhar em casa e impôs uma taxa de ocupação máxima de 50% para locais fechados.

Também há preocupações de que uma mudança para lockdowns dirigidos em resposta aos protestos possa ter efeito contrário na atividade. Ting Lu, economista-chefe da Nomura para a China, disse que lockdowns totais podem não ser impostos nas principais cidades, mesmo que os casos aumentem, mas lockdowns parciais em mais cidades podem potencialmente afetariam um número maior de fabricantes.

Fonte: Dow Jones