Gerdau mira em renováveis para avançar em descarbonização

O anúncio de que a Gerdau firmou parceria com a gestora de investimentos Newave Capital (NW Capital) para compra de 33,33% da participação societária da Newave Energia coloca a siderúrgica em um novo patamar para descarbonização da produção. O acordo gera ainda diversificação dos negócios do grupo e traz mais competitividade no setor de aço.

O plano tem a ambição de desenvolver projetos novos (greenfield) de grande porte para geração de energia elétrica com capacidade de aproximadamente 2,5 gigawatts (GW), exclusivamente de fonte solar ou eólica. Parte da geração visa abastecer as unidades industriais da Gerdau no Brasil com energia renovável, como parte do compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, bastante intensas em setores eletrointensivos, como a siderurgia.

Por meio da Gerdau Next, braço de novos negócios, a empresa vai injetar até R$ 1,5 bilhão de capital próprio na Newave Energia, dividido em duas etapas. Na primeira fase, o aporte previsto é de R$ 500 milhões ao longo de 2023, enquanto a segunda etapa contempla investimento de até R$ 1 bilhão, condicionado ao atingimento de metas de performance.

Ao Valor, o vice-presidente da Gerdau e líder da Gerdau Next, Juliano Prado, explicou que o negócio se firma principalmente no pilar da sustentabilidade para redução das emissões de carbono de 10% em até dez anos, a fim de alcançar 60% da necessidade de energia por meio de autoprodução. Hoje, é de 25%.

Em paralelo, a empresa busca reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (CO2e) dos escopos 1 e 2 de seu inventário, para 0,83 toneladas de CO2e por tonelada de aço em 2031, valor aproximadamente 50% inferior à média global da indústria do aço.

“Temos hoje um pipeline desenhado e prospectado de seis parques greenfield. A partir do momento em que estes parques entram em operação, ou a Newave adquirir novo parque, o conceito é que 30% venha de energia para a nossa autoprodução. Estamos falando de a Newave chegar próximo a 2,5 GW tanto em solar quanto em eólica”, diz Prado.

O mercado livre de energia é o segmento de mercado que a empresa está de olho na ampliação dos negócios. O Brasil possui hoje cerca de 10,7 mil consumidores livres, mas a proposta do governo de que todos os consumidores atendidos em alta tensão possam optar pela compra de energia elétrica de qualquer supridor a partir de 1º janeiro de 2024 abre espaço para novos competidores.

“A companhia vai olhar os demais 70% da energia que vão entrar [para comercialização] no mercado livre. Queremos também ser protagonistas em ter preços mais acessíveis aos negócios que queiram comprar da Newave Energia”.

No contexto de transição energética, parcerias como essa têm ocorrido com frequência no setor elétrico, em que petroleiras, empresas de metalurgia e siderurgia, por exemplo, se associam a outras companhias para terem algum diferencial competitivo.

No caso da Gerdau, diminuir o custo do aço foi um dos diferenciais para concretização do negócio, já que fontes incentivadas, como solar e eólica, além de serem as mais competitivas do país, com lugar de destaque na expansão do sistema, elas têm benefícios de contratação em relação a outras fontes convencionais.

“Este R$ 1,5 bilhão previsto em nosso plano de negócios de investimentos na Newave trata-se de capital próprio. Além disso, mais R$ 3 bilhões que virão da gestora Newave Capital junto com a XP teremos também capital de terceiros”, afirma.

Projetos novos, por essência, costumam ter maior risco, porém os ganhos são maiores. E por se tratar de informação estratégica, Prado não revela quanto os investimentos irão reduzir os custos de produção, mas frisa que os ganhos com o projeto são acima do custo de capital com dois dígitos altos.

Ele enxerga a governança e o time da equipe como um diferencial, com profissionais com trajetória em grandes empresas de energia, como a Siemens Gamesa e Echoenergia, entre outras.

Este não é o único investimento em renováveis e o executivo garante que não será o último. Ele se junta a outros, além da matriz de produção com sucata e carvão vegetal que abastecem as mini-mills elétricas na cadeia do ferro-gusa e do aço.

Fonte: Valor Econômico