Siderurgia: Segundo estimativas, investimento necessário para atingir a neutralidade em carbono pode superar o valor das empresas do setor

Responsável por 7% das emissões de gases do efeito-estufa produzidas pelo homem e consumidora intensiva de água e energia, a indústria siderúrgica tem intensificado esforços na busca pela descarbonização da produção de aço e, ao mesmo tempo, para transformá-la em oportunidade econômica a seu favor.

No mapa dessa transição estão as energias renováveis e o hidrogênio. No entanto, essa transição exige altos investimentos. Estimativas para atingir a neutralidade na produção global de aço verde ou aço livre de combustíveis fósseis apontam a necessidade de US$ 1,2 trilhão a US$ 1,3 trilhão até 2050, montante acima do valor das empresas do setor.

“É importante compreender que não existirá uma única solução para a descarbonização da siderurgia no mundo. As tecnologias adotadas variarão por região, de acordo com os recursos disponíveis, incentivos e vocação de cada país. A eletrólise é um dos possíveis caminhos [para isso]”, pondera Cenira Nunes, gerente geral de meio ambiente da Gerdau. No Brasil, acrescenta a executiva, a transição deve passar pelo aumento da utilização de gás natural em altos-fornos, que pode assumir papel de combustível em lugar do carvão mineral e ponte para tecnologias ainda em desenvolvimento, como a produção de hidrogênio verde. “Quando esse combustível se tornar economicamente viável no país, as suas aplicações na siderurgia podem acelerar a redução de gases de efeito estufa”, diz.

Rogério Nogueira, diretor de marketing de ferrosos da Vale, faz avaliação semelhante. Para ele, o Brasil tem potencial para ser ator relevante na produção de hidrogênio verde, principalmente pelo “acesso fácil” a energias renováveis, como hidrelétrica, solar, eólica e biomassa, entre outras.

Ele acredita ainda que algumas regiões no mundo estão mais bem posicionadas nesse sentido por terem a combinação potencial de energia barata e localização favorável. “Antes de atingirmos a produção de aço verde, aquele aço produzido com energia renovável e hidrogênio verde, a indústria terá de utilizar tecnologias alternativas, como a redução direta com o uso de gás natural e a chamada CCUS [captura, utilização e armazenamento de carbono]”, explica o executivo da Vale.

Coincidentemente, acrescenta Nogueira, as regiões e países que devem contar com energia renovável barata no futuro são as mesmas que hoje têm gás natural barato e potencial para CCUS. Entre eles, Estados Unidos, Brasil e países do Oriente Médio, por exemplo. “Queremos reforçar nossa posição nessas regiões contando com nossas fortalezas. Entre elas, minério de alta qualidade, habilidade para desenvolver novos produtos internamente e capacidade de concentrar minério em vários lugares do mundo”, diz o executivo da Vale.

Cenira Nunes lembra, entretanto, que processos de produção de aço a partir de hidrogênio ainda são “considerados disruptivos”, dependendo de implementação de infraestrutura e de se provarem competitivos.

De acordo com ela, a neutralidade em carbono demanda tecnologias maduras, ainda inexistentes, em escala industrial, além de políticas públicas que possibilitem que a indústria global do aço neutralize as suas emissões de CO2. “Temos participado ativamente, em colaboração com entidades setoriais, universidades e centros de pesquisa, na busca de tecnologias disruptivas para a produção do aço e estimular o diálogo e construção conjunta com diversos atores da sociedade para a implantação de políticas públicas, como o acesso a linhas de financiamento locais nacionais ou transacionais diferenciadas, provenientes de fontes públicas ou privadas”, acrescenta. Para Nunes, esses recursos são imprescindíveis dado o alto custo no desenvolvimento de tecnologias que permitam produzir aço verde.

Fonte: Valor Econômico