Insolvência global: aumento de 10% este ano e de 19% em 2023

A Allianz Trade (empresa global que atua com seguros de crédito comercial e seguro garantia) prevê que as insolvências globais devem aumentar tanto em 2022 (10%) quanto em 2023 (19%). A razão é que uma mistura explosiva – que reúne pressões inflacionárias, aperto monetário, crise energética e interrupções na cadeia de suprimentos – está comprometendo o fluxo de caixa das empresas.

Muitos governos decidiram enfrentar a situação atual implantando algumas políticas fiscais fortes. Mas essas medidas serão suficientes para conter o aumento das insolvências em nível global e local, indaga a Alianz Trade que abordou isso em seu último relatório: “O risco corporativo está de volta: cuidado com as insolvências dos negócios”.

“A recuperação das insolvências empresariais já é uma realidade para a maioria dos países, em particular para os principais mercados europeus (Reino Unido, França, Espanha, Holanda, Bélgica e Suíça), que explicam dois terços da ascensão. Em nível global, metade dos países analisados registrou aumentos de dois dígitos nas insolvências de negócios no primeiro semestre de 2022. No entanto, os EUA, a China, a Alemanha, a Itália e o Brasil ainda registram níveis baixos prolongados de insolvências, mas a tendência deve se inverter no próximo ano”, explica Maxime Lemerle, analista-chefe de Pesquisa em Insolvência da Allianz Trade.

A América Latina não deve ver a insolvência de negócios ultrapassar os níveis pré-Covid-19 antes de 2024, apesar de uma recuperação gradual até 2023 no Brasil.

Aumento da curva

A Europa pode ser particularmente impactada pelo aumento das insolvências nos próximos dois anos: a Allianz Trade espera aumentos importantes na França (+46% em 2022; +29% em 2023), Reino Unido (+51%; +10%), Alemanha (+5%; +17%) e Itália (-6% ; +36%). A região deve superar seu nível pré-pandemia de insolvências de negócios já em 2022 (em +5%).

Na Ásia, espera-se que a China registre +15% mais insolvências em 2023, na contramão do baixo crescimento e do impacto limitado da flexibilização monetária e fiscal. Nos EUA, a Allianz Trade espera um aumento de +38% nas insolvências de negócios em 2023, como resultado de condições monetárias e financeiras mais apertadas.

Fatores impactantes

A Allianz Trade identifica três fatores que podem ter um impacto significativo na rentabilidade das empresas. Alta conta de energia, aumento das taxas de juros e salários são três aspectos que pesam fortemente nos fluxos de caixa das empresas.

A conta de energia continuará a ser o maior choque de rentabilidade, em particular para os países europeus. Nos níveis atuais, os preços da energia acabariam com os lucros da maioria das empresas, uma vez que o poder de preços está diminuindo em meio à desaceleração da demanda. Se as empresas puderem repassar um quarto dos aumentos de preço da energia para os clientes, elas podem suportar um aumento de preços abaixo de +50% e +40% na Alemanha e na França, respectivamente.

Além disso, o aumento da taxa de juros está se aproximando no primeiro semestre de 2023. Na Europa, isso provavelmente equivale ao impacto na rentabilidade causado pela pandemia de Covid-19. Como esperado, os altos saldos de caixa para as empresas (ainda 43% acima dos níveis pré-Covid-19 nos EUA, +36% no Reino Unido e +32% na Zona do Euro) forneceram um buffer significativo contra a normalização da política monetária em 2022, mas o pior ainda está por vir.

No geral, o aumento dos custos de financiamento e salários em um contexto de baixo crescimento econômico coloca em risco a construção, transporte, telecomunicações, máquinas & equipamentos, varejo, equipamentos domésticos, eletrônicos, automotivos e têxteis”, detalha Ana Boata, Chefe Global de Pesquisa Econômica da Allianz Trade.

A Allianz Trade estima que o atual apoio fiscal, mais direcionado e focado em limitar a aceleração das taxas de austeridade está reduzindo o aumento das insolvências em mais de -10pp ao longo de 2022 e 2023 para todas as maiores economias europeias: -12pp na Alemanha (ou seja, 2.600 empresas), -13pp na França e Itália (ou seja, 6.700 e 1.900 empresas, respectivamente), -15pp no Reino Unido (4.300) e -24pp na Espanha (2.100).

No entanto, se a crise energética piorar, intensificando a recessão à frente, a expectativa é que os governos aumentem o apoio fiscal à medida que as insolvências empresariais aumentariam mais +8pp para +25% em 2023 na União Europeia – o maior aumento anual desde 2009. Para absorver totalmente este impacto, as medidas de apoio fiscal devem aumentar em média para 5% do PIB. No entanto, esses grandes saltos fiscais seriam muito mais constrangidos em meio a políticas monetárias restritivas.  Para enfatizar a solidariedade europeia, o empréstimo conjunto permitiria a todos os Estados-membros da UE formular uma resposta fiscal adequada e alinhada à crise energética sem colocar em risco a sustentabilidade da dívida.

Sediada em Paris, a Allianz Trade está presente em 52 países com 5.500 colaboradores. Em 2021, o volume de negócios consolidado foi de 2,9 bilhões de euros, e as transações de negócios globais seguradas representaram 931 bilhões de euros em termos de exposição.

Fonte: Monitor Mercantil