Níquel tem maior alta em seis meses

Os preços do níquel dispararam para seu maior patamar de mais de seis meses. A alta chama a atenção para a deterioração das condições de negociação vigentes desde a irrupção do caos do mercado, em março.

O contrato referencial de níquel, para entrega em três meses, disparou por curto tempo, e alcançou o limite diário de transações da Bolsa de Metais de Londres (LME, na sigla em inglês) de 15%, ao chegar a quase US$ 31.000 por tonelada na segunda-feira (14). A escalada foi seguida pela alta de 5% registrada na terça-feira, após uma mina de níquel da Nova Caledônia, fornecedora da Tesla, cortar sua projeção de produção para o quarto trimestre.

Fontes ligadas a tradings disseram que os movimentos voláteis dos preços são evidências do baixo grau de liquidez que persegue o mercado desde que a LME suspendeu e cancelou bilhões de dólares em transações com níquel em março, após uma alta sem precedentes dos preços.

“O mercado ainda está muito fraco. O que vimos são os efeitos da baixa liquidez se desenrolarem bem na nossa frente”, disse Geordie Wilkes, diretor de pesquisa da corretora de metais Sucden Financial.

O níquel, usado para fazer aço inoxidável e baterias usadas nos carros elétricos, passou por um ano extremamente turbulento. Temores de sanções à Norilsk Nickel, uma grande produtora russa, coincidiram com uma enorme aposta por parte da Tsingshan, a maior produtora mundial de aço inoxidável, de que os preços cairiam, o que levou as cotações a mais do que dobrar, em questão de dias, em março.

Os preços do níquel subiram quase 25% em cinco dias, puxados pelo otimismo diante da retomada da economia chinesa e do apoio dado pelo governo chinês ao setor de imóveis, além de um dólar desvalorizado após a divulgação de dados de inflação melhores que os previstos.

Mas Nikhil Shah, diretor de pesquisa em níquel da consultoria CRU, disse que a série de notícias positivas “não justifica a alta a que assistimos” e que “poderemos ver uma grande correção no próximo período de poucos meses”.

Os volumes do contrato de níquel da LME para entrega em três meses, desde março, correspondeu a 30% dos níveis observados no período de seis meses que antecedeu o caos do mercado, segundo dados da Bloomberg.

A Prony Resources, dona da mina de níquel de Goro, na Nova Caledônia, parcialmente controlada pela trading de commodities Trafigura, disse em comunicado que a produção foi reduzida nos três últimos meses devido às intensas chuvas, que causaram “liberação limitada de líquido carregado de sal” por sua barragem de resíduos.

Vídeos de uma explosão em uma usina de ferro-gusa de níquel circularam nas redes sociais na segunda-feira, mas a proprietária chinesa da unidade disse que a produção corre em ritmo normal desde sua instauração, no fim do mês passado.

Um operador de níquel considera que o principal motor da disparada do níquel é o enfraquecimento do dólar, exacerbado pela baixa liquidez do contrato de níquel. “Qualquer problema da ponta da oferta não é significativo.”

As produtoras de níquel estão ficando cada vez mais preocupadas com o impacto prejudicial da volatilidade. Jeremy Martin, CEO da Horizonte Minerals, uma desenvolvedora de projetos de níquel no Brasil, disse que seria preferível uma precificação estável de US$ 20.000 a US$ 25.000.

“O que é muito difícil são esses aumentos muito significativos. Todo mundo então pensa ‘temos de ter uma alternativa, temos de substituir, e o níquel não é aquela commoditiy de insumo tão estável que imaginávamos para nossa tecnologia de baterias’”, disse ele.

Fonte: Financial Times