Escassez de cobre pode atrasar eletrificação mundial

Os planos mundiais de eletrificar as economias e de reduzir as emissões de carbono poderão sofrer desaceleração em vista da escassez de cobre, alertou Richard Adkerson, diretor da Freeport-McMoRan, a maior produtora mundial de capital aberto do metal.

Adkerson, que é o CEO e presidente do conselho de administração do grupo de mineração, disse que a disparada da demanda global por cobre para a produção acelerada de carros elétricos, energia elétrica e linhas de energia renovável levarão ao déficit de oferta do metal.

“Haverá uma escassez muito significativa de cobre”, disse ele. “Será muito difícil atender às aspirações formuladas.”

O cobre é essencial para “esverdear” a economia devido à sua capacidade de condução de energia elétrica. Um carro elétrico pode usar volume três vezes maior de cobre do que um automóvel de motor a combustão interna, enquanto projetos de energia renováveis tendem a precisar de um volume cinco vezes maior do metal do que usinas de geração de energia tradicionais a gás, a carvão e nucleares.

Em relatório divulgado na semana passada, a consultoria Wood Mackenzie disse que é preciso que projetos que ainda não foram sancionados desovem 9,7 milhões de toneladas de oferta anual nos próximos dez anos. Atualmente, a magnitude do mercado é de 25 milhões de toneladas ao ano.

“Até agora, nunca se superou uma escassez dessa magnitude”, escreveram os autores, ao prever que serão necessários US$ 23 bilhões em investimentos anuais em novos projetos, 66% mais do que a média dos últimos 30 anos.

Maximo Pacheco, presidente do conselho de administração da Codelco, a maior produtora mundial de cobre, disse ao “Financial Times” que prevê um déficit de 6 milhões a 7 milhões de toneladas de cobre nos próximos dez anos.

A Codelco tem enfrentado dificuldades para manter a produção de suas minas. Pacheco diz que a empresa não conseguirá retomar os níveis de produção do ano passado por quatro anos ainda. “É um tremendo esforço repor os recursos”, disse ele.

Os executivos de mineração dizem que o desafio da ponta da oferta é agravado pela desaceleração da economia global, que pressionou os preços do cobre para patamares mais baixos e levou estrategistas da commodity a prever um superávit do mercado para o ano que vem.

“Essa turbulência econômica atual só agrava o problema”, disse Adkerson. “As empresas relutam em investir no mundo de hoje.”

Os estoques de cobre visíveis, que constituem uma pequena parcela do estoque mantido, mas que têm grande influência sobre as decisões dos gerentes de compras, estão em baixa recorde, criando um risco de variações voláteis de preços.

As tensões geopolíticas também estão sacudindo a oferta de metais, inclusive de cobre. Executivos do setor dizem que a diminuição da oferta russa levou a uma corrida mais imediata na Europa, onde os compradores estão dispostos a pagar enormes ágios ou a assinar contratos de mais longo prazo para garantir material.

As produtoras de cobre ponderam que um grande número de fatores, desde processos demorados de concessão governamental e de projetos em que a extração é mais difícil até a falta de projetos em fase de começo de construção, dificultam a tarefa de atender à demanda de longo prazo.

Jonathan Price, CEO da Teck Resources, que está desenvolvendo um dos maiores projetos mundiais de cobre no Chile, disse na recente Cúpula de Mineração do FT que “simplesmente não fecha a equação” entre a alta da demanda e os obstáculos à entrada de nova oferta.

No entanto, uma reação na ponta da oferta, por meio do aumento da produção a partir de sucata de cobre, poderia atenuar parte da pressão, e, segundo Adkerson, avanços tecnológicos imprevistos podem também destravar a oferta.

“Quando simplesmente nos aferramos à tecnologia de hoje e examinamos os desafios, as aspirações superam a realidade”, observou Adkerson.

Fonte: Financial Times