Como ficam os investimentos com a manutenção da Selic

Com a decisão do Copom em manter a Selic em 13,75% ao ano, conversamos com três especialistas do mercado financeiro sobre quais seriam as melhores opções de investimento considerando a manutenção da taxa e as perspectivas do cenário econômico.

Segundo o Copom, “o Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”.

A próxima reunião do Copom está programada para os dias 6 e 7 de dezembro. Já a próxima reunião do Fomc, equivalente norte-americano, está programada para os dias 1º e 2 de novembro.

Cauê Mançanares, CEO da Investo, gestora especializada em ETFs

Com a manutenção da Selic, a estratégia de investimento não deveria mudar. Os ETFs que alocam em ativos internacionais, como, por exemplo, o WRLD11, para renda variável, e o USDB11 e BNDX11, para renda fixa, são boas opções para se proteger contra volatilidades do mercado brasileiro, especialmente com a incerteza que vivemos hoje no período eleitoral.

Pedro Henrique Ricco, CEO da Delta Investor

O Copom tomou bastante cuidado, principalmente na sinalização do mercado. A ata veio sem novidades justamente para que o mercado não entenda que haverá cortes de juros antecipados, e sim em meados de 2023. A reunião também indicou que pode preservar a taxa Selic no patamar de 13,75%, caso a inflação não traga novidades.

Com isso, podemos começar a olhar para empresas de consumo, eventualmente uma Via Varejo ou uma Magazine Luiza, que são empresas um pouco mais endividadas e que visam crescimento mais rápido. A decisão abre todo esse leque, mas para o curtíssimo prazo, ainda temos dois cenários: um com Bolsonaro e outro com Lula. Na parte dos juros, especialmente, o mercado já vai começar a olhar para empresas um pouquinho mais agressivas, de crescimento, e com endividamento um pouco maior.

Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais

Antes de analisarmos os impactos diretos e indiretos nos investimentos, é interessante destacar que o direcionamento e a expectativa do Banco Central para as próximas reuniões são bem mais mandatórios para o mercado do que o resultado propriamente dito da Selic, que veio em linha com as expectativas do mercado.

O principal ponto explicitado pelo Banco Central no seu documento é que será mantida a estratégia de prolongamento dessa taxa por mais tempo, o que quer dizer que o investidor terá uma remuneração melhor em renda fixa por mais tempo. Também há a expectativa de que essa tomada de decisão arrefeça a inflação para os horizontes relevantes, neste caso 2023 e 2024, o que significa que se hoje um investidor comprar um prefixado pensando neste horizonte, com a queda da inflação ele terá um juro real muito maior. Essa é a principal questão que deve ser buscada na hora de investir: quais são os meus juros reais?

Contudo, o resultado do comunicado de ontem [quarta-feira] já mexe com a Selic diária. Os títulos de renda fixa atrelados à Selic sofrem marcação a mercado com a taxa divulgada. Como ela foi mantida, o mercado deve sentir bem menos. Os títulos como Tesouro Selic ou CDBs de liquidez diária já respondem a essa marcação.

Nesse momento, os prefixados começam a ganhar mais atenção, mas ainda é muito arriscado fazer uma colocação num montante muito expressivo. Na última linha do comunicado, o Banco Central deixou em aberto que, se for necessário efetuar um ajuste de alta para a taxa de juros, por menor que ele seja, ele está disposto a fazer isso caso haja uma desancoragem das expectativas para o horizonte relevante.

A Selic também afeta o mercado setorial. As empresas que devem sofrer com o prolongamento da taxa de juros em 13,75% são as empresas do varejo, construção civil e tecnologia. Isso porque essas empresas precisam de maior fluxo para financiar as suas operações. Como o crédito continua caro, essas empresas terão as suas dívidas e despesas encarecidas, o que pode bater no balanço. Dito isso, o investidor pode achar que, por esse motivo, essas empresas devem valer menos, o que faz o preço das suas ações caírem devido a essa expectativa de piora no balanço.

Outros ativos de risco impactados são os fundos imobiliários, cujos preços são inversamente proporcionais à taxa de juros. Se há uma alta de juros, nós temos uma queda nos preços desses ativos. Esse mercado pode continuar sofrendo por mais tempo devido a essa sinalização de prolongamento, o que já vem acontecendo desde 2021 com os reajustes da Selic.

Agora, os bancos se beneficiam com a manutenção da Selic no atual patamar. Como o crédito fica mais caro, o banco acaba fazendo uma melhor receita. Vale lembrar que os bancos são bons pagadores de dividendos.

Nós também podemos ter boas emissões de títulos de crédito privado, como debêntures, CRIs e CRAs, com uma taxa muito mais interessante. Os títulos passam a ter uma taxa melhor para o investidor, mas isso desaquece o mercado setorial já que as empresas que tomam recursos advindos desses instrumentos vão pagar juros mais caros. Com relação aos bancos, se de um lado eles estão ofertando CDBs com juros maiores, do outro eles estão recebendo juros maiores das operações de crédito.

Para fechar, esse mesmo cenário de juros reais mais interessante faz com que tenhamos uma entrada de capital estrangeiro que aquece o mercado de ativos de risco e de títulos. Consequentemente, o investidor local se beneficia dessa melhora do mercado financeiro.

Fonte: Monitor Mercantil