Mineração da América Latina enfrenta período ‘bastante tranquilo’ de fusões e aquisições

A indústria de mineração da América Latina deve passar por um período de calmaria na área de fusões e aquisições no ano que vem, com balanços sólidos e valuations elevados influenciando as negociações.

A região viu um avanço nos acordos de fusões e aquisições de mineração com valor agregado de US$ 11 bilhões no primeiro semestre, principalmente nas esferas de ouro, lítio e cobre.

O valor foi comparado aos US$ 9,24 bilhões de todo o ano de 2021 e US$ 2,58 bilhões do ano anterior, quando a atividade foi impactada pelas restrições a viagens decorrentes da pandemia de Covid-19.

Acordos no valor de US$ 14 bilhões progrediram em 2019, dominados pela aquisição da Goldcorp por US$ 10 bilhões por parte da Newmont.

PERÍODO DE CALMARIA

Porém, as perspectivas para 2023 são tímidas.

“Acho que vai ficar bem tranquilo, de modo geral”, disse Joe Bormann, chefe de ratings corporativos da América Latina da Fitch Ratings, à BNamericas.

Em parte, isso deriva dos fortes lucros sustentados por preços acima da média histórica dos metais, incluindo cobre, ouro e minério de ferro, juntamente com as oportunidades de investimento limitadas, com poucos projetos em andamento e lentidão no processo de licenciamento.

“Todas as empresas têm estruturas de capital realmente sólidas, todas estão gerando muito fluxo de caixa livre porque não há muitos gastos de capital”, apontou Bormann.

“Portanto, não é necessário que alguém seja vendedor [de um ativo em dificuldades], os preços seriam relativamente altos.”

“Não é um cenário dramático para as atividades de fusões e aquisições só porque a indústria está em um período de inatividade no momento.”

No segmento de metais preciosos, os acordos de fusões e aquisições estão sendo prejudicados pela falta de descobertas e projetos que representem um bom valor para os compradores, destacou Trevor Turnbull, diretor de pesquisa de ações globais de ouro e metais preciosos da Scotia Capital, à BNamericas no início deste mês.

Outro fator que pesa sobre as negociações é a postura da administração das empresas, que se concentra em definir qual equipe sobreviverá após uma fusão.

“Ninguém parece estar ansioso para deixar o interesse próprio de lado e fechar um negócio sabendo que vai ficar desempregado. Isso continua sendo um impedimento”, disse Turnbull.

Mas, para ele, as fusões e aquisições são necessárias na indústria de mineração de ouro e prata.

“[A consolidação] é definitivamente necessária. Os investidores gostariam de ver mais disso”, acrescentou.

ACORDOS RECENTES

No segundo semestre, importantes acordos de M&A no setor de mineração da América Latina incluem a fusão da GCM Mining e da Aris Gold, concluída em setembro.

A transação, anunciada em julho, criou a maior mineradora de ouro da Colômbia, com as operações de Segovia e a mina Marmato no país, ao lado do projeto Soto Norte, além do ativo Toroparu, na Guiana.

A SolGold e a Cornerstone Capital Resources também assinaram um acordo definitivo no início de outubro, por meio do qual a SolGold adquirirá todas as ações da Cornerstone que ainda não possui.

“A fusão […] fortalecerá significativamente a capacidade do grupo combinado de criar valor para os acionistas, consolidando a propriedade do projeto Cascabel junto com um portfólio robusto de outros projetos principalmente no Equador”, disseram as empresas em um comunicado.

Os acordos fechados no início do ano incluem a oferta de US$ 6,70 bilhões da Gold Fields pela Yamana Gold, adicionando as minas da Yamana no Chile, Brasil, Argentina e Canadá ao portfólio da Gold Fields, que inclui a mina de cobre e ouro Cerro Corona, no Peru, e o projeto de ouro Salares Norte no Chile, bem como minas na Austrália, Gana e África do Sul.

A Capstone Mining e a Mantos Copper também concluíram uma fusão de US$ 3,3 bilhões em março para formar a Capstone Copper, com ativos de cobre no Chile, México e Estados Unidos.

A consolidação no setor de lítio incluiu a aquisição da Millennial Lithium por US$ 400 milhões pela Lithium Americas em janeiro, visando o projeto Pastos Grandes, na Argentina, e a aquisição da Ganfeng Lithium por US$ 386 milhões da Bacanora Lithium, com sede no Reino Unido, antiga proprietária do projeto de argila de lítio Sonora, no México.

 

Fonte: BN Americas