O Brasil registrou o terceiro mês seguido de deflação com a divulgação do IPCA de setembro

O Brasil registrou o terceiro mês seguido de deflação com a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, que ficou em -0,29%. No entanto, a deflação – queda no índice de preços de produtos e serviços em um determinado período – não está no radar do mercado para o futuro.

O dado negativo reflete o reajuste nos impostos relacionados aos combustíveis. O ICMS foi cortado em pelo menos 20 Estados, e as alíquotas de Cide-combustíveis e Programa de Integração Social e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Pis/cofins) foram reduzidas a zero. Especialistas afirmam que o impacto do corte de impostos e preços deve ter um efeito mais diluído.

Ricardo Macedo, economista e professor da Faculdades Integradas Hélio Alonso, diz que, na última divulgação, a desaceleração do IPCA já foi menor, dando um indicativo de que esse movimento tende a não se sustentar. Em setembro, o grupo dos transportes (1,98%) exerceu o maior impacto negativo sobre o índice geral, contribuindo com -0,41 ponto porcentual.

“Os combustíveis e a gasolina têm um peso muito grande dentro do IPCA. Em julho, o efeito foi maior por conta da fixação da alíquota máxima de ICMS, mas temos observado reduções no preço médio do combustível vendido para as distribuidoras, o que tem contribuído para a continuidade da queda dos preços”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, em entrevista à agência de notícias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A Petrobras passou por uma temporada de anúncios de reduções nos preços de combustíveis. Em julho, por exemplo, ocorreu uma queda de R$ 0,15, ou 3,88%, no preço do litro da gasolina. Porém, essa medida também não foi mais anunciada pela companhia.

Christopher Galvão, analista da Nord Research, acredita que ocorrerá um aumento da inflação na próxima divulgação do IBGE. “Isso deve ocorrer porque as deflações não estiveram relacionadas a uma dinâmica de atividade baixa e uma economia desaquecida”, explica. Além disso, para o especialista, a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) de reduzir a produção de áreas de barris de petróleo pode diminuir a oferta e afetar os preços internacionais e no Brasil.

O analista da Nord Research diz também que o Banco Central não pode ficar dependente dos cortes de impostos para atingir a meta da inflação. “O BC precisa continuar uma postura mais dura para desacelerar e tornar as expectativas do mercado mais ancoradas com as metas”, afirma.

O alvo de inflação para este ano é de 3,50%, com tolerância superior de até 5%. Enquanto para 2023 a meta é de 3,25%, com banda até 4,75%. Hoje, a inflação acumulada nos últimos 12 meses é de 7,17%.

Futuro

De todo modo, a grande dúvida do mercado é se haverá a volta da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico para petróleo, gás natural, etanol e derivados (Cide-combustíveis).

Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, afirmou que, se o imposto for retomado, haverá uma alta de aproximadamente 0,5 ponto porcentual no acumulado do ano. “Não ter a Cide-combustíveis seria um efeito que obrigaria o Banco Central a substituir as projeções da inflação e dos juros ao longo de 2023.”

Apesar da desoneração para o ano que vem estar inclusa na Proposta de Lei Orçamentária Anual, o texto ainda precisa passar na mão dos senadores e dos deputados.

A redução do ICMS para o limite de 18% sobre os combustíveis virou lei, portanto, não deverá ocorrer um aumento nos próximos anos. Antes da sanção da lei, a maior parte dos Estados brasileiros cobrava alíquotas de ICMS que variavam entre 25% e 30%.

A Bolsa brasileira costuma antecipar o movimento dos juros, ou seja, quando o Banco Central começou a demonstrar que poderia interromper as altas, as ações já começaram a ficar mais aquecidas.

O sócio da Monte Bravo Investimentos explica que a Bolsa já sentiu o impacto da alta da inflação e da taxa Selic (básica de juros). “Com o fim do ciclo e principalmente com o mercado começando a precificar os cortes de juros, a Bolsa antecipa a trajetória do mercado”, afirma.

E os papéis de consumo, construção civil, bancos e os ativos dependentes ao nível de juros começam a se recuperar conforme o cenário de inflação vai ficando mais ancorado, principalmente em 2023 e 2024.
Preços caem pelo 3º mês na Grande SP, mostra Fecomercio
Indicador de custo de vida mostra deflação de 0,21% em setembro

O custo de vida das famílias na região metropolitana de São Paulo caiu pelo terceiro mês seguido, de acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Em setembro, Custo de Vida por Classe Social (CVCS), calculado pela entidade, teve deflação de 0,2% – após reucar 0,18% em julho e 0,21% em agosto. Em 12 meses o CVCS acumula alta de 8%. No ano, o indicador soma 4,62%.

Para a FecomercioSP, o resultado é pontual, mas expressa uma tendência de arrefecimento nos preços. A entidade considera positiva a queda nos grupos que impactam com mais força o orçamento das famílias que enfrentam dificuldades financeiras – sobretudo no de alimentos. Para os analistas da FecomercioSP, a queda dos preços ajuda parte dessa população a ter mais fôlego para pagar dívidas vencidas e poder para, mais tarde, retomar o padrão de consumo.

O resultado foi obtido graças, principalmente, ao preço dos combustíveis. Assim como em agosto, o grupo de transportes registrou queda. Em setembro, a baixa foi de 2,26%, puxada sobre tudo pelas quedas de gasolina (-8,3%), etanol (-12,1%) e óleo diesel (-4,2%). Segundo a entidade, o grupo de transportes caiu mais para as faixas mais baixas de renda. Em setembro, a variação foi negativa em 3,07% para a classe E e em 1,42% para a classe A.

Um dos grupos que mais subiram ao longo da pandemia de covid-19, o de alimentos e bebidas, permaneceu estável (ligeira queda de 0,04%), pressionando menos o orçamento das famílias, principalmente as mais pobres. Ao contrário, aponta a Fecomercio, muitos itens estão ficando mais baratos, como o feijão (-4,6%) e o óleo de soja (-6%).

Um aumento relevante observado na pesquisa de setembro veio do grupo de habitação (0,87%), influenciando pelo reajuste para cima dos produtos de consumo doméstico, como o botijão de gás (2%). Isso se vê, inclusive, nos preços dos serviços – que, da mesma forma, ficaram mais altos. Neste caso, a variação de 1,5% da energia elétrica deu o tom da subida.

O grupo que mais cresceu, porém, foi o de vestuário (1,76%). Considerando que, no acumulado de 12 meses, este também é o conjunto de itens mais inflacionado (18,2%), percebe-se o impacto que o repasse dos custos de malhas e tecidos tem causado aos consumidores.

O custo de vida subiu de forma parecida entre todas as classes sociais, nos últimos 12 meses, de acordo com a FecomercioSP. Para a classe E, por exemplo, a variação foi de 8,55%, enquanto para a classe A foi de 8,57%.

Enquanto os preços do varejo caíram 0,91%, em setembro, os dos serviços registraram nova alta (0,55%), reforçando uma tendência já apontada no mês anterior. No caso do varejo, metade dos grupos de produtos registrou queda, com destaque para transportes (-4,36%) e alimentação e bebidas (0,27%), A alta acumulada em 2022 ficou em 5,2%.

No caso do Índice de Preços dos Serviços (IPS), apenas um dos oito grupos sofreu queda no mês, o de comunicação (-1,5%). Diferentemente dos dados do varejo, aqui o que colaborou para a alta do indicador foi, justamente, o grupo de transportes (1,47%), muito por causa dos reajustes nas passagens aéreas (9%), além das tarifas de ônibus interestaduais. Em 2022, a alta acumulada do IPS é de 3,93%, enquanto a dos 12 últimos meses é de 6,37%.

*Com agências de notícias (O Sul e Valor)

Fonte: Infomet