Emergentes pedem que G-20 adote ações contra múltiplas crises

Países emergentes, incluindo o Brasil, defendem no G-20 que a cúpula dos chefes de governo e de Estado, marcada para 15 e 16 de novembro em Bali (Indonésia), manifeste algum consenso por ações mesmo modestas para responder às múltiplas crises na economia global, e que pode afetá-los cada vez mais.

A guerra da Rússia contra a Ucrânia e seu impacto global é uma das principais razões da fratura nas relações no grupo das 20 maiores economias do mundo. Este ano, desde a invasão russa, o G-20 não conseguiu ter nenhuma declaração ministerial, nem sequer dos ministros de educação, num racha sem precedentes no grupo.

Mais recentemente, o G-7, reunindo as maiores economias desenvolvidas, desistiu de “cancelar” a Rússia do grupo e de instituições internacionais, e aceitou negociar alguns textos —  mas continua procurando isolar Moscou. De seu lado, os russos vetam qualquer crítica a seu ataque militar. Ao mesmo tempo, a queda de braço opondo os EUA e a China vai continuar tendo crescente impacto no grupo agora e pelos próximos anos. Washington busca frear a China em questões tecnológicas e financeiras.

Assim, no G-20 algumas negociações de textos até avançam, mas quando chega aos efeitos da guerra a situação embaralha. Sem consenso, fica bloqueada uma resposta coletiva envolvendo riscos de dura recessão global e atenuar a dívida das nações mais pobres.

Também ficam paralisadas ações envolvendo transição energética, transformação digital, infraestrutura sustentável, reforma fiscal internacional. Objetivos de desenvolvimento sustentável para 2030, adotados na ONU em 2015, devem fracassar, no ritmo atual.

Emergentes, incluindo o Brasil, Argentina, México, Indonésia, Turquia e Índia, insistem que o lugar para discutir paz e guerra é no Conselho de Segurança da ONU.

Esses países sinalizam que não querem escolher um lado no G-20, e sim ser parte da solução para tentar recuperar um mínimo de cooperação econômica internacional. Tanto diante da urgência da situação atual de alta de preços, insegurança alimentar, aumento rápido de juros, etc, como para continuar projetos estruturais.

Para a cúpula de Bali, em menos de um mês, alguns países desenvolvidos têm insistindo que seus presidentes não têm condições de assinar declaração conjunta com a Rússia. Uma opção que apareceu na mesa no G-20 foi repetir a chamada “solução 19+1”, em referência a uma declaração sobre clima só não assinada em 2019 pelos EUA, então sob a presidência de Donald Trump. A questão é como conseguir consenso em um texto sobre a guerra mesmo entre os 19, tamanha a fratura geopolítica que continua piorando.

Na recente votação da condenação na ONU do referendo em quatro territórios ucranianos anexados ilegalmente pela Rússia, somente o Brasil, entre os Brics, votou a favor, enquanto a China, Índia e África do Sul se abstiveram e a Rússia evidentemente votou contra.

A decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o cartel do petróleo, em 5 de outubro, de baixar a produção em plena crise energética mundial, quando países ocidentais pediram o inverso disso, também ampliou as dificuldades. Os EUA advertiram para consequências nas relações com a Arábia Saudita, vista como tendo agido a favor da Rússia na prática.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, conclamou o G-20 a aumentar imediatamente o alívio da dívida de países vulneráveis, por exemplo refinanciando a dívida bilateral que vence entre 2023-2025. Mas no grupo os países do G-7 acusam a China, maior credor do mundo de dívidas bilaterais, de causar problemas na reestruturação dessas dívidas.

De seu lado, Pequim se defende e quer que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) também aceitem cortar uma parte da dívida que eles cobram dos países em desenvolvimento.

A expectativa na Indonésia, na presidência do G-20, é de que, do lado do Brasil, vença ou não a eleição presidencial, Jair Bolsonaro vá a Bali para a cúpula de 15 e 16 de novembro, acompanhado de seus ministros da Economia, Paulo Guedes, e das Relações Exteriores, Carlos França.

Fonte: Valor Econômico