Halal do Brasil vai investir R$ 15,4 mi em incentivos às exportações para países mulçumanos

O mercado mundial de alimentação halal engloba 1,9 bilhão de consumidores em países muçulmanos, movimenta US$ 1,267 trilhão por ano e tem a perspectiva de crescer 7,1% até 2025, conforme apontou o relatório State of the Global Islamic Economy 2022. Para incrementar esse negócio, a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) se uniram em uma ação para planejar investimentos da ordem de R$ 15,4 milhões em atividades de comércio exterior, nos próximos 30 anos. Dados compilados pela CCAB mostram que, em 2021, o Brasil exportou US$ 16,5 bilhões em alimentos e bebidas para os 57 países da Organização para Cooperação Islâmica (OCI), com participação de 7,2% do total de US$ 230,4 bilhões importados pelo bloco.

Intitulada Hatal do Brasil, a iniciativa – que visa acelerar o processo de inserção internacional das indústrias com produtos halal no mercado mundial, fomentando a cultura exportadora brasileira para mercados islâmicos e não-islâmicos, por meio de um projeto de apoio a negócios internacionais – inclui subsídios a empresas interessadas em adotar a certificação halal para seus produtos. Esse selo atesta a manufatura, conforme as tradições do islamismo, ou seja, na prática ele funciona como um passaporte de acesso a esses mercados.

A iniciativa vai habilitar empresas à exportação de alimentos de valor agregado para países muçulmanos, em um esforço de ampliar a pauta das vendas externas que, hoje, tem sido prevalente em commodities alimentares. Conforme o secretário-geral da CCAB, Tamer Mansour, a meta é habilitar 500 fabricantes de alimentos e bebidas, com produtos de valor agregado no portfólio, e já em fase de internacionalização.

“Queremos ver o Brasil ampliar participação nos países islâmicos com categorias de produtos de valor agregado, principalmente alimentos beneficiados, aproveitando a competitividade no segmento, a longa relação com os mercados islâmicos e a boa reputação do halal brasileiro nesses países, conquistada em função do comércio de proteína, desde os anos 1970”, afirmou Mansour, em comunicado.

De acordo com ele, essas ações promocionais vão priorizar feiras em mercados muçulmanos com destaque – entre os países prioritários e os 22 estados da Liga Árabe – para a Malásia, que observou, no estímulo à produção halal, uma política eficiente de industrialização e de fomento à exportação, sendo ainda uma referência em marketing aplicado ao consumo islâmico.

Segundo a CCAB, essa promoção também vai mirar países com papel importante no mundo muçulmano, como Indonésia, França, Alemanha, Reino Unido e África do Sul, sendo que o primeiro possui a maior população islâmica do mundo e, agora, vem mantendo contato com a proteína brasileira. Já os europeus têm expressivas populações muçulmanas e de alto poder aquisitivo; e a África do Sul vem se firmando como hub halal.

A assessoria da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira salientou que, no campo diplomático, as embaixadas brasileiras nos países-alvo vão buscar diálogo com governos e entidades para promover o halal nacional. “Já estamos nesse caminho com alimentos e bebidas, segurança e defesa, petróleo e gás natural, higiene pessoal e cosméticos, casa e construção”, pontuou o presidente da Apex Brasil, Augusto Pestana, ao comentar sobre a iniciativa Halal do Brasil, em julho passado, durante o Fórum Econômico Brasil-Países Árabes.

Embora as exportações para países muçulmanos tenham posicionado o Brasil na segunda colocação entre os fornecedores de alimentos e bebidas para aquelas nações, figurando atrás somente da Índia, elas ainda são lastreadas em commodities de baixo valor agregado, como açúcar, soja, frango e milho. Isso oferece uma visão mais clara do potencial a explorar nos segmentos de maior beneficiamento. Para Mansour, o avanço do Brasil no mercado islâmico de alimentação ainda esbarra na baixa oferta de produtos processados com certificação halal, o que reforça a necessidade de cooperação entre CCAB e Apex Brasil para fortalecer e estimular a adoção desse selo entre as empresas.

Selo halal
Obrigatório para vários tipos de alimentos importados pelos países da Organização para Cooperação Islâmica (OCI), mas também para outros insumos, o selo halal atesta ao consumidor muçulmano que o produto em questão foi fabricado respeitando suas crenças e preceitos do islamismo. Conforme a CCAB, o selo garante, por exemplo, que o alimento beneficiado é livre de derivados suínos, cujo consumo é vedado ao muçulmano, além de atestar que produtos de origem animal vêm de processos de abate islâmico, com ações para evitar, inclusive, a contaminação cruzada.

O secretário-geral da CCAB acredita que o estímulo à certificação também vai contribuir com o marketing do alimento halal brasileiro, já que nos países muçulmanos esse tipo de produto é associado à produção socialmente responsável e a um estilo de vida saudável. Ainda lembrou que o conceito halal (do árabe, ‘aquilo que é lícito’) estabelece regras tanto para alimentos como artigos de higiene pessoal, cosméticos, medicamentos, moda, entretenimento, turismo e até para o sistema financeiro islâmico. “Se o Brasil estiver disposto a cumpri-las, como já faz com as proteínas, pode se tornar relevante em todos esses segmentos, pois já é uma referência de respeito às crenças muçulmanas, embora muitos brasileiros ainda não saibam”, disse Mansour.

Fonte: Portos e Navios