Entrevista com José Carlos Martins: Como a Cedro Mineração quer se tornar a maior produtora brasileira de minério de ferro

A produtora brasileira de minério de ferro Cedro Mineração planeja investir US$ 300 milhões em suas operações até 2026, para expandir a produção anual em cinco vezes.

A Cedro, do empresário local Lucas Kallas, quer financiar essa expansão com recursos próprios.

José Carlos Martins, executivo veterano que trabalhou na maior mineradora do país, a Vale, foi recentemente nomeadoCEO da empresa.

Nesta entrevista, Martins conversa com a BNamericas sobre os planos de expansão e os obstáculos à frente.

BNamericas: Qual é a situação atual das operações da Cedro Mineração ?

Martins: Atualmente, operamos uma mina de minério de ferro na cidade de Nova Lima, em Minas Gerais, denominada Extrativa Mineral. Essa mina foi comprada pelo Grupo Cedro há cerca de três anos.

Antes, a Cedro processava o minério para o ex-proprietário da mina e, desde a compra, a operação é totalmente da Cedro. Nossa produção atual é da ordem de 4 Mt/a.

BNamericas: E seus planos de expansão?

Martins: Temos um novo projeto para entrar em operação na cidade de Mariana que ainda depende de licenciamento e há outros quatro projetos, todos em Minas Gerais, que darão suporte aos planos de crescimento. Nossa meta é produzir 20 Mt/a de minério de ferro até 2026.

BNamericas: Isso tornaria a Cedro uma das maiores produtoras nacionais de minério de ferro.

Martins: Temos um conceito um pouco diferente em relação às operações das grandes mineradoras. Ao contrário das grandes empresas, não temos intenção de investir na parte logística dos projetos.

Nossa produção é vendida para siderúrgicas, fabricantes de ferro-gusa e parte dela para outras mineradoras como Vale, CSN e Trafigura [trading company]. Nesse perfil de negócio, não há razão para investir em logística, pois podemos usar a de nossos clientes.

Quando chegarmos a 20 Mt/a, ficaremos atrás apenas da Vale, CSN, Anglo American e Samarco. Seremos a quinta maior empresa de minério de ferro do país.

BNamericas: Quanto investimento essa expansão demandará?

Martins: Nosso plano de investimento de agora até 2026 envolve US$ 300 milhões. Dadas as características do nosso negócio, nosso capex é menor em relação a outras mineradoras, mas o opex é maior, pois dependemos de logística de terceiros.

Esse investimento projetado acontecerá gradativamente, à medida que aumentarmos nossa produção.

BNamericas: E como será financiado?

Martins: Nossa estratégia é financiar nossas operações com recursos próprios. É possível buscar sempre um pouco de financiamento para a expansão, mas a maior parte vem com recursos próprios. O dono da Cedro tem como política reinvestir tudo que a empresa arrecada.

Essa estratégia de utilização de recursos próprios também nos dá flexibilidade para ajustar os investimentos às atuais condições de mercado. Temos flexibilidade para agir; temos flexibilidade para ajustar o start-up de nossos projetos.

BNamericas: Qual a importância dessa flexibilidade atualmente, considerando as incertezas econômicas globais e os problemas na China, um mercado-chave para o minério de ferro brasileiro?

Martins: Estamos vivendo um momento difícil no mercado de minério de ferro. A China é realmente a grande formadora de preços do minério de ferro e ainda está passando por um momento econômico complicado devido à política zero Covid, e isso afetou a demanda e os preços do minério de ferro.

Mas eu vejo isso como transitório. Ainda há uma grande necessidade de investimento em infraestrutura na China e em todo o Sudeste Asiático, que demandará muito minério de ferro nos próximos anos.

No entanto, a economia global também sofre com os impactos da guerra da Rússia na Ucrânia, que gerou uma pressão inflacionária global muito forte.

BNamericas: Você tem uma estimativa para a aquisição de pessoal e equipamentos necessários para apoiar a expansão?

Martins: Devemos triplicar nossa força de trabalho nos próximos três anos. Atualmente, temos uma força de trabalho de 400 pessoas.

Além disso, podemos precisar comprar caminhões, escavadeiras e analisaremos os equipamentos fornecidos pela indústria local e a possível compra de equipamentos elétricos. Como mineradora responsável, queremos ter esse relacionamento com os fornecedores mais próximos.

No que diz respeito à nossa necessidade de energia, vamos sempre olhar para a possibilidade de contratação de soluções ligadas às energias renováveis, uma vez que faz parte da nossa estratégiade mineração sustentável.

BNamericas: Qual é a receita anual atual da empresa e quais são as metas de receita?

Martins: A Cedro tem faturamento anual entre US$ 200 milhões e US$ 250 milhões. Nossa meta é chegar a US$ 1 bilhão até 2026.

Mas sempre olhando para o crescimento sustentável. Investindo recursos próprios, estamos sempre focados na sustentabilidade e rentabilidade dos projetos.

Fonte: BN Americas