O empresário gaúcho Jorge Gerdau Johannpeter, membro da família controladora do Grupo Gerdau, gigante do ramo do aço brasileiro, palestrou no evento Tá Na Mesa, promovido pela Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) nesta quarta-feira (24), em painel sobre os 200 anos da imigração alemã no Estado.
Em entrevista coletiva, antes do debate, afirmou que, neste momento de retomada econômica depois das cheias de maio, que devastaram o Rio Grande do Sul, o apoio do governo federal deveria ser proporcional ao tamanho da contribuição histórica do Estado para o crescimento do País.
“Eu acho que o projeto de retomada do Rio Grande do Sul deveria receber apoio do governo federal no mesmo tamanho que, historicamente, o Estado contribuiu para o crescimento do Brasil”, disse Gerdau. “É preciso receber mais apoio financeiro do governo federal”, completou.
O empresário, que tem família de origem germânica, também falou sobre a influência alemã, que completa 200 anos de imigração no Rio Grande do Sul. Gerdau ainda analisou o cenário da indústria do aço no Brasil. Ele respondeu aos questionamentos da reportagem do Jornal do Comércio e de outros jornalistas, que participaram da coletiva.
Jornal do Comércio – Quais os legados da cultura alemã no Rio Grande do Sul passados 200 anos das primeiras imigrações?
Jorge Gerdau Johannpeter – Este é fenômeno interessante, a cultura portuguesa e, por consequência, o Brasil, tem uma capacidade de absorção da cultura dos povos. Essa integração cultural nos trouxe condições fantásticas de desenvolvimento. A influencia alemã é de disciplina, poupança, trabalho. No esporte, na educação e na cultura, vemos o dedo dessa imigração. A própria Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), assim como a Sogipa (Sociedade de Ginástica de Porto Alegre), teve influência germânica. No Rio Grande do Sul, somos muito privilegiados.
JC – O Rio Grande do Sul tem enfrentado momentos difíceis depois da enchente. A Gerdau avalia novos investimentos no Estado?
Gerdau – Recentemente terminamos um investimento de R$ 200 milhões (na unidade de Sapucaia do Sul), essencialmente no aspecto de modernização da empresa. Nós trabalhamos com usinas regionais que reciclam sucatas. Temos usinas em vários locais do Brasil. E temos a maior usina em Minas Gerais, onde trabalhamos com minério e produzimos o aço. Metade do aço produzido no Brasil é de lá. Nós abrimos capital muito cedo, isso nos possibilitou crescimento significativo no Brasil e no mundo.
JC – Como empresário gaúcho, o que considera necessário para a retomada econômica após as cheias?
Gerdau – Eu diria que ainda não temos uma visão clara dessa catástrofe. Tem cidades que perderam 80% de toda sua estrutura. A capacidade financeira do Rio Grande do Sul está prejudicada há anos. É preciso receber mais apoio financeiro do governo federal. Na minha visão, esse trabalho precisa de mais mobilização em diversas frentes, como habitação, realocação de empresas. Em Porto Alegre, existe proteção contra cheias, mas em algumas cidades não há nenhuma estrutura. São investimentos enormes. É preciso uma concentração de esforços de todos. Nós temos um desafio de anos, mas a sociedade está se mobilizando.
JC – Como fazer isso?
Gerdau – Eu acho que o projeto de retomada do Rio Grande do Sul deveria receber apoio do governo federal no mesmo tamanho que, historicamente, o Estado contribuiu para o crescimento do Brasil. Deveríamos criar modelos parecidos com os da pandemia, em que recursos federais puderam ser aplicados aqui. O Rio Grande do Sul recebe de volta 30% do que recolhe para a União. Outros estados recebem acima de 45% ou 50%. O nordeste recebe mais do que arrecada. Eu acredito que deveríamos ter mais retorno nesse momento de calamidade. Eu acho que deveríamos receber de volta uns 60%, ou 70% do que recolhemos para a União. Isso ficaria num fundo para reconstrução. O Sul fez com que o Brasil, que era deficitário na balança comercial, se tornasse superavitário, então, é um reconhecimento. É preciso alguma medida nesse sentido. Isso é um processo político. Temos que nos harmonizar. Temos que unir a representação estadual e federal, com os sindicatos e o setor empresarial. Temos que unir forças, porque é uma reivindicação justa. Não tem cabimento sermos o segundo maior contribuinte na escala federal sendo que estamos precisando desses recursos aqui.
JC – Qual o cenário para a indústria do aço brasileira em 2024?
Gerdau – A condição siderúrgica do Brasil é moderna e competitiva, mas sofremos com os problemas estruturais que todos os segmentos sofrem. Temos o maior índice de cumulatividade tributária do mundo. A reforma que estamos começando vai levar anos para funcionar. Energia, por exemplo, é um fator de competitividade, mas temos aqui um fator de cumulatividade, encargos de energia que não existem em outros locais, que oneram produtor e consumidor. O Brasil em termos de modernidade estrutural está atrasado. A capacidade do trabalhador brasileiro é fantástica, a produtividade interna é boa, mas o sistema tributário gerencial é medieval.
Fonte: Jornal do Comércio