Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado de Pernambuco

Manufatura inteligente e gargalos no chão de fábrica conduzem investimentos em tecnologia da América Latina

Os gargalos de produção e a necessidade de atualização tecnológica, robotização, automação e integração de sistemas das unidades fabris da América Latina estão alavancando os negócios de algumas das principais empresas de software e TI.

A perspectiva para 2023 é de ainda mais investimentos em manufatura avançada, também conhecida como manufatura inteligente ou manufatura 4.0.

Angela Gheller, diretora de produtos de manufatura da Totvs, maior empresa de software do Brasil e um dos principais players da América Latina, disse à BNamericas que o segmento é o maior e está entre os que mais crescem nas linhas de negócios do grupo.

Antes de uma reformulação de seus relatórios de negócios, soluções e projetos para manufatura representavam cerca de 25% das vendas, explicou ela. Agora, esses números estão dispersos entre segmentos e projetos.

As vendas líquidas totais da Totvs no terceiro trimestre totalizaram R$ 1,04 bilhão (US$ 205 milhões), um aumento de 26% em relação ao ano anterior.

“Agora temos cerca de 6.000 clientes industriais. Sempre foi um segmento muito tradicional para nós. Dois de nossos ERPs surgiram dentro de indústrias. Está no nosso DNA”, comentou Gheller.

Bens de capital, bens de consumo, bens duráveis, metalurgia e plástico, papel e celulose, química e reciclagem, extração e beneficiamento e têxtil e vestuário são as principais verticais da indústria atendidas.

Apesar dos desafios macroeconômicos, uma meta de 2023 é fechar projetos fabris mais complexos, principalmente no que diz respeito à digitalização do chão de fábrica, além de softwares de gestão ERP.

“Em suma, mantemos a Totvs como a escolha favorita entre nossa cobertura [tecnologia, mídia, telecomunicações], já que a empresa deve ser capaz de sustentar um crescimento de dois dígitos em 2023, com menores riscos de revisão de ganhos para baixo”, disse o Bradesco BBI em um relatório recente, favorecendo as ações da Totvs sobre as das empresas de telecomunicações.

Citando um estudo da federação da indústria, Gheller destacou que quase todas as empresas de manufatura no Brasil já operam algum tipo de sistema de gerenciamento de suprimentos e estoque, mas apenas 42% usam tecnologia no processo principal de fabricação. “Sempre foi um desafio levar a tecnologia até o chão de fábrica.”

Também no Brasil, a Gerdau Next, a nova divisão de negócios da maior siderúrgica do Brasil, Gerdau, lançou uma joint venture com a startup SpaceTime Labs, batizada de Ubiratã.

A nova empresa terá como foco a tecnologia de ponta e a criação de plataformas que se integrem ao ambiente industrial por meio de inteligência artificial, sistemas autônomos e operações robóticas, informou a Gerdau em um comunicado.

A iniciativa foi criada originalmente como um projeto conjunto em abril de 2021. Desde então, as empresas atuaram em sinergia e os esforços evoluíram para uma joint venture 50:50.

Um dos primeiros projetos da Ubiratã é um gêmeo digital para monitoramento online da qualidade do fornecimento de insumos minerais.

SONDA

Na chilena Sonda, uma das maiores integradoras de sistemas da América Latina, as soluções para manufatura são um motor de crescimento das linhas de cidades inteligentes e negócios digitais em seu plano estratégico para 2022-2024.

A empresa planeja investir US$ 340 milhões e aumentar suas margens de lucro em 300 pontos-base no período.

O CEO José Orlandini anunciou em nota que esse investimento será focado em contratos de longo prazo e infraestrutura de TI, o que permitirá que a empresa preste serviços e desenvolva soluções de primeira linha para a rede de clientes em toda a região.

OPORTUNIDADES

As principais tendências de manufatura 4.0 estão relacionadas a ERPs especializados no segmento, casos de uso de 5G, segurança da cadeia de suprimentos digital, comércio eletrônico para manufatura e práticas ESG relacionadas à digitalização do setor.

No geral, espera-se que o mercado latino-americano de fabricação inteligente cresça a uma taxa anual composta de 15,3% até 2030, de acordo com uma previsão da GrandViewResearch.

“Como a revolução tecnológica moderna começou há pouco tempo na América Latina, as oportunidades da manufatura inteligente estão se expandindo. A região também fica perto e tem acesso a várias matérias-primas, o que auxilia na fabricação inteligente e estimula o crescimento do mercado”, enfatizou o estudo.

Embora a região voltada para commodities não esteja entre as geografias mais industrializadas e a desindustrialização tenha se acelerado em diferentes mercados nos últimos anos, juntamente com o crescimento do setor de serviços, a participação da indústria nas economias da região não é desprezível.

Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) da ONU, a indústria concentrou 12,8% dos empregos na América Latina e no Caribe e 12,6% do PIB em 2020.

“Em um país como o México, esses números sobem para 16,6% e 17,3%, respectivamente, enquanto na Argentina o setor representa 18,7% do PIB e 18,8% do emprego total”, disse um relatório da Cepal de 2022 sobre oportunidades de manufatura inteligente.

No Fórum Econômico Mundial deste mês, o governador do estado mexicano de Nuevo León, Samuel García, anunciou que uma “plataforma de manufatura avançada” seria lançada em breve no estado, com foco na digitalização de processos e na automação.

“Hoje oficializamos um centro, uma plataforma de manufatura avançada, na indústria 4.0, que em breve chegará a Nuevo León”, declarou à imprensa mexicana.

García não citou empresas regionais de tecnologia, nem divulgou as parcerias para a plataforma, mas disse que vai convidar “empresas de primeiro mundo para se instalarem no estado”.

Os maiores players do mercado são ABB, Siemens, General Electric, Rockwell Automation, Schneider Electric, Honeywell e Emerson Electric, entre outros.

Outras empresas latino-americanas querem abocanhar fatias maiores desse bolo, visando principalmente contratos com pequenas e médias empresas.

O México tem um centro de tecnologia avançada patrocinado pelo governo para a fabricação inteligente. Chamado de Ciateq, o centro tem sede em Querétaro e filiais em outros seis estados. O objetivo da iniciativa é promover vínculos entre governo, setor privado, startups e academia para o desenvolvimento da manufatura inteligente e da indústria 4.0.

Entre outras iniciativas regionais recentes, a Belago Technologies, integradora que fornece soluções de TI, anunciou este mês uma parceria com a empresa de tecnologia israelense Matics.

A expectativa é que a cooperação acelere a adoção de tecnologias de ponta no setor manufatureiro, inicialmente no Brasil, mas com potencial para atingir outros mercados da região.

Segundo as empresas, o sistema Matics pode gerar economia de até 25% na disponibilidade de máquinas, cerca de 10% no consumo de energia e 3% no desperdício de material e sucata.

Novas tecnologias de ponta estão no radar, embora possam não estar disponíveis tão logo na América Latina.

Além dos processos operacionais e logísticos, entre as principais tendências da manufatura avançada, a empresa especializada Alfa Sistemas cita a nanotecnologia para embalagens, com sensores que indicam a maturação de um produto, impressão 3D para reduzir o uso de recursos naturais e biossensores para identificar a presença de agentes contaminantes nas mercadorias.

Os preços de soluções para manufatura avançada, incluindo software e sensores, estão caindo – o que tende a favorecer investimentos e impulsionar a digitalização do chão de fábrica.

 

Fonte: BN Americas